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A festa do queijo Serra da Estrela

Autarcas de Fornos e Manteigas desafiam vizinhos a promoverem uma única feira regional

As tradicionais feiras do queijo Serra da Estrela estão de volta e reclamam o estatuto de alternativa aos cortejos alegóricos de Carnaval. A abertura deste roteiro gastronómico coube este ano a Fornos de Algodres, cujo certame decorreu no domingo, seguindo-se Aguiar da Beira (na quarta-feira), Celorico da Beira (dia 24), Seia (25), Manteigas (25 a 28, no âmbito da 9.ª Mostra das Actividades Económicas) e Gouveia (26). De regresso está também a ideia dos municípios promoverem uma única feira sectorial.

Há anos que José Miranda fala do assunto, até porque considera que este tipo de feiras tem os dias contados. «Após décadas de realização, este modelo está a perder força. Chegou o momento de apostar numa feira regional de grande envolvimento de todos os protagonistas na zona demarcada de produção do queijo Serra da Estrela», sugeriu, mais uma vez. O autarca fornense até defende a alternância deste certame pelos respectivos municípios produtores. «Ou apostamos todos numa perspectiva regional ou estamos a destruir um produto genuíno nesta região demarcada», sublinhou. O mesmo pensa José Manuel Biscaia, autarca de Manteigas, para quem devia haver «uma grande feira na região», a exemplo das de Santarém ou Beja. «Com a serra em destaque, mas que envolvesse também as restantes localidades e mais-valias do distrito», sustenta. Enquanto isso não acontece, cada um vai-se safando como pode. Contudo, em Fornos de Algodres, o balanço já começa a preocupar os responsáveis autárquicos. O concelho chegou a ter perto de 500 produtores, mas actualmente resistem apenas 120. «O queijo Serra da Estrela poderá deixar de existir dentro de 10 anos se não forem tomadas medidas de apoio à produção», alertou José Miranda.

«É necessário um sistema de incentivos para que os produtores tenham uma vida digna e que motive os seu filhos a prosseguir a actividade», reclamou, anunciando a atribuição de 60 euros a cada queijaria licenciada. Por outro lado, revelou ser intenção da Câmara criar, juntamente com os produtores locais, uma associação para «proteger um produto cujo preço de venda é praticamente o mesmo há 20 anos», bem como candidatar-se ao IV Quadro Comunitário de Apoio (QCA). Em Aguiar da Beira, as preocupações serão as mesmas. Mas a sua feira, na quarta-feira, em Penaverde, é, por enquanto, uma festa da tradição. Já na autodenominada Capital do Queijo da Serra da Estrela, o certame dura três dias e começa a 24, pois Celorico da Beira é o concelho com o maior número de produtores e rebanhos. Para além de um programa de animação variada, com concertos, espectáculos, visitas guiadas e desporto, o evento é acima de tudo uma mostra gastronómica do queijo Serra da Estrela e de todos os produtos que lhe estão associados, como o pão saloio, a broa de milho, os enchidos e o vinho tinto maduro.

Luis Martins

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