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A felicidade*

Por detrás do velho balcão estava um homem idoso, calvo, seco, de estatura mediana. A sua expressão era triste, carrancuda.

Atendia uma cliente, que pretendia utensílios de cozinha, já que o comércio a que se dedicava era nesse ramo. Ele estava indisposto e respondia à cliente com certo azedume. Eu encontrava-me perto e calada, observando a cena. De repente o indivíduo dirige-se a mim e pergunta-me o que desejo. Sem saber porquê, dou comigo a responder-lhe:

– Ando à procura da Felicidade!

O homem, com a expressão do rosto aberta num grande sorriso, diz-me:

– Oh minha senhora! A Felicidade está num prato de comida bem gostosa! Ao que eu retorqui:

– Então é por isso, eu hoje só comi umas fatias de melão e pão.

– Ah!, diz ele. Assim não pode encontrar a Felicidade!

E ambos demos uma grande gargalhada. Quando acalmámos, eu disse-lhe:

– Veja, afinal podemos encontrar momentos de Felicidade ao dar uma boa gargalhada!

Mas ele já tinha voltado a um estado de nostalgia, pois, fixando os olhos no velho balcão, ficou de olhar perdido e repetia como se só para ele falasse: a felicidade, a felicidade…

Deixei a loja, mas carreguei comigo aquela figura em que adivinhei todo um percurso de vida: lutas, sucessos, falhanços, algumas alegrias e um Fim de Vida com muitas Amarguras.

* título da responsabilidade da redacção

Zelinda Rente, Freches (Trancoso)

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