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A Feira de S. João já não é o que era

Os “empurrões” que caraterizavam a feira anual da Guarda são hoje uma memória de outros tempos

«Então vizinho vendeu muito?». A pergunta foi variando mas a resposta era quase sempre a mesma, num ambiente marcado pelos rostos cabisbaixos de quem não pode comprar e pela desilusão de quem não consegue vender.

Os comerciantes presentes na tradicional Feira de S. João, na Quinta do Ferrinho (Guarda), espelhavam o desânimo de um evento que já viveu melhores dias. A crise toca a todos e chegou em força àquela que é considerada, por muitos, a principal feira do ano no concelho. «Antes chegávamos a esperar o ano inteiro por esta feira porque, na zona da Guarda, era aquela em que poderíamos ganhar alguma coisa», disse José Fernandes a O INTERIOR, salientando que «este ano enganámo-nos, foi péssimo». Para o feirante – que vendeu t-shirts, soutiens e sapatos, entre outros produtos –, a diferença em relação à edição anterior é substancial: «Está muito pior, antes não se notava tanto a crise», considera.

Entretanto, são cada vez mais os que veem, mexem, escolhem, mas não compram. Francisco Santos, que vendia roupa interior para criança, homem e senhora a alguns metros de distância, também se queixa da mesma situação: «Mexem, remexem, e não levam nada», lamenta-se. «Se compararmos com o ano passado a quebra não é considerável, mas reparamos que as pessoas têm cada vez menos poder de compra», sublinha o feirante. Já Isabel Rodrigues, que não visitava a feira há alguns anos, deslocou-se à Quinta do Ferrinho para comprar toalhas mas acabou por ir para casa de mãos vazias: «O comerciante tentou fazer mais barato mas decidi não comprar porque consigo remediar com as que tenho. Se gasto agora depois posso precisar e não ter», justifica-se.

A cliente ainda se lembra dos “empurrões” que aconteciam quando os corredores estreitos se enchiam de pessoas, mas que hoje são uma miragem: «Há muito menos gente do que há uns anos. Os feirantes até baixam os preços, mas quem está deste lado evita fazer despesas», acrescenta. Também Francisco Bidarra diz que «há uma fraca adesão aos mercados e feiras porque não há dinheiro. Nota-se em todos os sectores», salienta. «Tenho cuidados que se calhar não costumava ter, como comprar só o necessário. Se investirmos hoje podemos não ter numa urgência», considera.

Sara Quelhas A crise é um denominador comum entre feirantes e clientes

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