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«A Feira das Tradições é a principal ferramenta de projeção de Pinhel a nível regional e nacional»

Entrevista a Rui Ventura, presidente da Câmara de Pinhel

P – O tema da 23ª Feira das Tradições é música e instrumentos, a que se deve esta escolha?

R – O tema surge sempre por indicação do Agrupamento de Escolas de Pinhel, que é o nosso grande parceiro. Fazemos questão que seja assim porque é o sentimento dos alunos. O primeiro grande momento em que se expõe o tema de cada feira é o desfile de Carnaval na sexta-feira, que antecede a abertura do certame, e depois, já no pavilhão, com a forma como as freguesias decoram os seus espaços trazendo ao conhecimento público aquilo que existe nos seus territórios relacionado com o tema. Após 23 edições ainda temos uma longa listagem de temas a desenvolver, sendo que o Agrupamento envia sugestões ao longo do ano e a Câmara escolhe. Por regra, escolhemos sempre temas diferentes em cada edição mas nada nos impede, numa ocasião especial, de repetir um. Por exemplo, na 25ª edição da feira, que vai coincidir com a comemoração dos 250 anos da cidade, se calhar poderemos voltar ao tema do património.

P – Mas terá também a ver com a particularidade de Pinhel ter algum protagonismo na música com duas filarmónicas, vários grupos de concertinas, uma academia e grupos de música popular.

R – Felizmente temos alguns músicos que se têm destacado. É o caso da Flávia Castro, uma acordeonista que ganhou um prémio internacional no ano passado, e do guitarrista Gonçalo Maia Caetano, que também venceu um concurso internacional. Há ainda um conjunto de jovens que vingaram nessa área após deixarem a Academia de Música – que é um projeto com dez anos e tem tido muito sucesso, dando a Pinhel um élan cultural que não tinha. No fundo, é colocar os alunos mais disponíveis para a atividade cultural do município e dessa forma levar pais e familiares. Voltámos a recuperar o hino de Pinhel, que é interpretado em qualquer iniciativa da autarquia, e encomendámos ao grupo Ai! um levantamento da música tradicional no concelho. O trabalho está feito, vai ser utilizado na feira de forma mais lúdica e será depois trabalhado ao longo do ano para ser apresentado oficialmente. Com isto queremos também que este património de cada uma das nossas aldeias não se perca. Tivemos o projeto Zéthoven com muito sucesso e vamos lançar este ano algo muito excecional a nível do país, que é a Academia gravar um CD com os alunos da ASTA – Associação Sócio Terapêutica de Almeida. Queremos mostrar que temos potencial em Pinhel e o exemplo disso é o espetáculo musical – já apresentado no Natal – que vamos fazer na primeira noite desta Feira das Tradições só com artistas do concelho com uma qualidade excelente.

P – Esse é o seu principal destaque do programa deste ano ou tem mais atividades para realçar?

R – Tudo o que se passa na Feira é sempre destaque, mas o que realço em cada edição é o tema. Quem vem, ano após ano, tem a certeza que não vai encontrar um evento igual ao anterior, depois porque o tema desperta os nossos visitantes para o concelho e também a curiosidade dos que estão cá e que muitas vezes não conhecem o seu património relativamente àquele tema. Há 23 anos que a Câmara de Pinhel tem vindo a fazer algo de excecional através deste evento, que é dar a conhecer o que muitas vezes não se conhece e até está aqui ao nosso lado. Mas a feira é também o espaço próprio de promoção dos nossos recursos endógenos, como o azeite, o vinho, o mel e doces, que terão uma área diferenciada para os visitantes puderem constatar in loco a sua qualidade. Aliás, todos os anos a Feira das Tradições tem um formato diferente e este ano terá mais espaço, mais zonas de lazer e de estar. Quero também destacar que já despertámos a curiosidade dos nossos amigos espanhóis, pois passámos de dois stands institucionais do país vizinho para oito este ano. Mas também o facto de hoje, ao contrário do passado, os empresários pinhelenses, que não se reviam na feira, já estarem em maioria nos cerca de 200 expositores das atividades económicas. Isso significa que eles perceberam a mais-valia que é estar numa atividade como a Feira das Tradições para terem contactos de negócios futuros. Desde as nossas freguesias, aos recursos endógenos, passando pelas nossas empresas e gastronomia, a Feira das Tradições tem tudo o que caracteriza o nosso território.

P – Portanto, a Feira das Tradições é a principal ferramenta de projeção do concelho a nível regional e nacional?

R – Sem dúvida. Estamos na 23ª edição, é o maior evento do género no Inverno na Beira Interior e está para ficar. Todos veem o certame como uma mais-valia para o território e por isso é importante apostar muito na sua realização para dar a conhecer o nosso património e história, os nossos empresários, a nossa gastronomia e recursos endógenos.

P – Na apresentação do certame falou no objetivo de ultrapassar os 52 mil visitantes do ano passado. É uma meta alcançável?

R – Não defini essa meta, o que disse é que não estamos preocupados com o número de visitantes que a feira possa vir a ter. Em 2017 tivemos cerca de 52 mil visitantes que passaram pelos torniquetes e este número não nos incomoda até porque foi o maior registado até hoje. Obviamente que gostaríamos sempre de ter mais, mas o que queremos mesmo é que a Feira das Tradições tenha as melhores condições para que as pessoas possam passear, conviver, conversar e desfrutar de um vasto leque de atividades em conforto e segurança. Aliás, esse foi um setor que reforçámos este ano com a melhoria das zonas de evacuação.

P – Mas a venda de bilhetes também é importante para o financiamento da própria feira. Ou não?

R – Há muitos anos que a Feira das Tradições é financiada exclusivamente pelo município de Pinhel. Felizmente, o certame está a atingir uma dimensão tal que os nossos patrocinadores já se “chegam mais à frente” do que no passado. Ou seja, já há uma colaboração do ponto de vista financeiro muito maior. Este ano estreamos um novo parceiro, a BMW através do seu concessionário no distrito, a Matos & Prata, e continuam a Superbock e a Sagres, estas duas marcas já de uma forma muito significativa no apoio a espetáculos. Isto significa que estes “sponsors” também veem nesta feira uma atividade de grande impacto e projeção para as suas marcas e produtos. Mas não são os únicos, pois outras grandes marcas já não foram a tempo de integrar esta edição e certamente contaremos com elas nos próximos anos.

P – O que é que a Feira das Tradições representa para o concelho e para a economia local?

R – Posso começar por dizer que está tudo cheio, dos alojamentos aos restaurantes, passando pelo próprio espaço da feira. Além disso, quer o terminal Multibanco no recinto, quer os restantes na cidade, movimentam cerca de 300 mil euros nesse fim-de-semana, o que é significativo. Há muito movimento em Pinhel nesses três dias, mas o que considero muito mais importante é a de nos promovermos através de quem nos visita, que gostam de estar cá e levam uma imagem positiva do concelho além-fronteiras. É isto que fazemos com este evento: promovemos o nosso território junto de quem nos visita – e isto custa muito dinheiro – e depois damos orgulho aos pinhelenses.

P – Outra característica do certame é ser motivo de regresso de muitos pinhelenses que residem fora do concelho para o fim-de-semana do Carnaval. A que se deve isso?

R – Nesse fim-de-semana é capaz de haver no concelho tantas pessoas como no Verão. Isto porque muitos dos nossos imigrantes e pinhelenses que residem nos grandes centros reservam estes dias para regressarem às suas terras. Quem sente aquele orgulho de pinhelense vem a Pinhel, há centenas e centenas de pessoas que veem para sentir orgulho da sua terra, conviverem e verem-se. Há hoje, paralelamente à feira, reencontros de antigos estudantes e de amigos, os lagares estão ocupados com lagaradas. As pessoas vêm para se divertir, para conviver e para nunca se esquecerem do património das suas aldeias e do concelho.

P – No anterior mandato apresentou o projeto para um novo pavilhão multiusos para acolher a Feira das Tradições, entre outras atividades. Em que fase está o projeto?

R – Sempre disse que era preciso termos financiamento comunitário para o concretizar porque estamos a falar de um investimento de mais de 3 milhões de euros que a Câmara não consegue suportar na totalidade. O projeto de arquitetura está pronto mas não vale a pena avançar com o restante sem termos financiamento garantido. Até agora não conseguimos esse apoio, mas não vamos esquecer o assunto. E temos um plano B – que não vou divulgar por enquanto – que vamos ter que discutir no executivo municipal para podermos arranjar, de uma vez por todas, um espaço específico para a Feira das Tradições. Será sempre um espaço coberto, amplo, e terá que ter obrigatoriamente um mínimo de 10 mil metros quadrados de área coberta – é a área da feira atualmente e já começa a ser pouco. Se esta é a maior mostra de Pinhel, com a dimensão que já atingiu, e é inequivocamente o maior certame de Inverno da Beira Interior, então há que dar-lhe condições. Não podemos continuar a ter tendas junto aos pavilhões do Centro Logístico, que já é um espaço grande, portanto temos que resolver o problema de forma definitiva.

P – Qual é orçamento da edição de 2018 da Feira das Tradições?

R – São cerca de 400 mil euros, uma verba exclusivamente custeada pela Câmara de Pinhel com o apoio de alguns patrocinadores que nos ajudam a suportar alguns custos, nomeadamente com os artistas. A feira já tem este orçamento há algum tempo, não é de agora. No entanto, são 400 mil euros para promover o nosso território através de quem nos visita e dando orgulho aos que cá estão. Não há melhor forma de o fazer que não seja dando a conhecer num fim-de-semana tudo o que de melhor existe no concelho.

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