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«A Faculdade de Ciências da Saúde é um dos motores importantes que a UBI tem para o projeto do futuro»

Entrevista a João Queiroz, reitor da Universidade da Beira Interior

P – Foi durante muito tempo o presidente da Faculdade de Ciências da Saúde. Como viu a sua evolução ao longo destes 10 anos?

R – De uma maneira geral acho que foi um projeto bem conseguido. É o que me apraz registar. Houve muitas dificuldades, muito trabalho, muita cooperação de todos, do sistema de saúde, dos hospitais, dos médicos que lá estão, dos professores e investigadores que se foram fixando, dos funcionários e também dos alunos. Em minha opinião tiveram um contributo extremamente importante na construção da Faculdade e no estabelecimento dos seus alicerces mas diria que passado 10 anos os grandes objetivos da Faculdade foram atingidos. Eram fundamentalmente a implementação de um projeto de qualidade, diferente mas de qualidade, com vertentes inovadoras no modelo pedagógico, na organização da investigação e penso que os objetivos foram totalmente conseguidos.

P – A evolução do número de alunos deixa-o satisfeito?

R – Fomos crescendo em termos de número de alunos. Essa questão pode ser abordada de duas formas. Em relação aos alunos de Medicina fomos aumentando o número de alunos por alguma pressão que houve no sentido de aumentar esse plafond. Começámos numa fase inicial com 60 alunos no curso de Medicina e fomos aumentando até aos 140 que existem agora e parece-me que atingimos o máximo razoável para manter a formação de qualidade. Em termos do número de alunos na Faculdade penso que a criação de outros cursos e de termos mais alunos nos primeiro, segundo e terceiro ciclos de outras áreas como o sector da Biomedicina e Ciências Farmacêuticas foi desejável e extremamente importante para termos um projeto mais heterogéneo, mas também conciliador e potenciador de sinergias entre as diferentes áreas.

P – Acha que o estigma inicial da abertura de um curso de Medicina no interior já foi definitivamente ultrapassado?

R – Penso que sim. Acho que havia alguma dificuldade em certos sectores da sociedade em aceitar que se ia ter um projeto de qualidade e que íamos ter uma participação ativa dos hospitais num projeto deste tipo mas acho que esse estigma há muito tempo que já foi ultrapassado. Nos primeiros anos houve algumas dificuldades mas a nossa preocupação era mostrar um trabalho feito, o que tínhamos conseguido concretizar e penso que a partir de uma certa altura, até a Ordem dos Médicos considerou o projeto de qualidade e que correspondia a todos os standards de formação médica de qualidade.

P – Nestes 10 anos, consegue eleger o melhor acontecimento para a Faculdade?

R – É difícil porque acho que aos poucos todos os momentos são importantes para a consolidação do projeto. Obviamente que o lançamento do projeto e e a criação do curso de Medicina foram o primeiro momento e a criação dos outros cursos são outros momentos. A criação do Centro de Investigação em Ciências da Saúde e a sua avaliação muito positiva muito recentemente também é outro momento. Ter instalações para o projeto foi outro momento importante. Penso que não há o momento, mas sim um somar de momentos e de pequenas vitórias que se foram conseguindo até agora e que nos mostram o projeto de qualidade que temos hoje.

P – E o pior?

R – Também é muito difícil encontrar esse momento. Tivemos muitas dificuldades no início mas penso que as fomos superando aos poucos e no balanço entre esses poucos momentos menos positivos e os grandes momentos da Faculdade diria que hoje estamos a comemorar 10 anos porque houve uma sobreposição nítida dos grandes momentos em detrimento dos pequeninos problemas que tivemos, que são normais e que constituem um processo de aprendizagem até para mim quando estava com a responsabilidade que tinha na Faculdade. Foi um processo de aprendizagem e de interação com todos os intervenientes da criação da Faculdade e não há nenhum momento que possa destacar pela negativa.

P – Qual é a importância que a Faculdade assume hoje em dia para a Universidade?

R – Acho que é unânime a sua importância. Claro que um reitor neste momento que foi presidente da Faculdade poderá ser tentado a ter alguma parcialidade nesta interpretação. Contudo, penso que é mais ou menos unânime na UBI que o projeto da FCS é extremamente importante para a imagem, para a captação de alunos e para a criação de muitas oportunidades. A FCS é hoje um dos motores importantes que a UBI tem para o projeto do futuro.

P – Acha que o enquadramento e as relações entre os hospitais da Guarda, Covilhã e Castelo Branco com a Faculdade é o desejável?

R – Em termos de relações bilaterais no sentido Faculdade/Universidade com os hospitais são excelentes. Aliás, temos de fazer um tributo ao contributo que os hospitais, as suas direções e os médicos têm dado à Faculdade e é também graças a eles que o projeto teve a qualidade que teve. O que está em voga neste momento é discutir de que forma os três hospitais deviam interagir mais para ajudar no projeto da Faculdade e nesse campo sou um dos adeptos do projeto do Centro Hospitalar da Beira Interior ou de uma Unidade Local de Saúde da Beira Interior que congregasse os projetos da Guarda e de Castelo Branco num projeto único que me parecia ter mais força para vingar, quer na prestação de cuidados de saúde, quer na formação de novos médicos. Como estamos, conseguimos trabalhar, trabalhamos bem e temos o maior contributo possível de cada um dos hospitais individualmente mas defendo que o projeto ideal para a Faculdade seria termos um só Centro Hospitalar. Seria benéfico para a Faculdade e também para a prestação de cuidados de saúde, bem como para a diferenciação em algumas áreas. Só quando tivermos massa crítica e dimensão suficiente é que poderemos ter projetos importantes nessas áreas.

P – O número de alunos licenciados em Medicina que têm ficado nos hospitais da Beira Interior deixa-o satisfeito?

R – Obviamente que não. Gostaríamos de ter muitos mais e também nessa vertente o projeto do Centro Hospitalar seria importante porque provavelmente ganharíamos mais capacidade de fixação dos médicos nas especialidades na região e o que significava mais médicos no futuro a colaborar com a Faculdade mas também a prestar cuidados de saúde na região. Nesse campo a nossa ambição seria ter muito mais.

P – Qual a importância que o UBI Medical pode vir a ter?

R – O UBI Medical é um projeto que faz um bocadinho da investigação e da transferência das ideias e do conhecimento para a prestação de serviços e para a criação de pequenas empresas de base tecnológica. Ou seja, o UBI Medical é um projeto de fixação de recursos humanos qualificados e de uma prestação de serviços na área da qualidade de vida à região que me parece que pode ser muito importante. É um projeto aglutinador de várias vontades mas que nos permitem agarrar ainda mais as oportunidades que a área da Saúde nos tem dado. Oportunidades de mais financiamento, de mais projetos, de interação entre as diferentes áreas do saber dentro da Universidade, da Engenharia com a Saúde, da Comunicação com a Saúde, da Economia com a Saúde, e portanto diria que é um núcleo potenciador de sinergias dentro da Universidade.

P – Já se sabe quando é que as obras poderão arrancar?

R – Está para muito breve. O processo está bastante avançado e penso que muito em breve vamos ter o início da execução da obra.

P – Há outros novos projetos para a Faculdade na calha?

R – Para a Universidade, de uma maneira geral, sim. Vamos apresentar agora o plano de atividades de 2012 ao Conselho Geral. Temos o plano de um Campus que se chama UBI Tech que compreende várias vertentes, uma delas é o UBI Medical mas que vai ter outras vertentes que aí queremos desenvolver. Será apresentado oportunamente primeiro ao Conselho Geral e depois à comunidade académica e à comunidade regional em geral.

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