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A extravagância da Feitoria da Bélgica

Viajar pelo Oriente numa loja da Guarda

Há lojas assim… lojas que imaginamos nas maiores metrópoles do mundo, em cidades onde gostaríamos de ir. Lojas onde cada peça tem impregnada uma história, uma vivência, um lugar; onde descobrimos a arte e respiramos cultura. Lojas onde podemos comprar muito mais do que um objeto, podemos comprar o mundo. Há lugares assim… E há lugares assim que, por inverosímil que pareça, podem estar ali, tão perto que as imaginamos longínquas.

A Feitoria da Bélgica é assim! Abriu há 20 anos na Guarda. Abriu para surpreender. Para despertar os sentidos. Para provocar emoções. Antes, ali ao lado do Jardim José de Lemos, onde Pedro Paiva guiava cada um dos clientes pelas divisões da casa, entre porcelanas e pinturas, como se recebesse as visitas na sua habitação. Agora, na Avenida dos Bombeiros Voluntários Egitanienses, por onde todos passam, mas muitos não vêm a mais conceptual loja da Guarda. Uma loja que exprime um conceito, onde a harmonia e a coerência se encontram com o glamour e o bom gosto dos seus promotores.

Num ambiente carregado de contrastes, que vagueia por terras distantes, onde se podem comprar antiguidades, perfumes, chapéus únicos, peças de design exótico de criadores europeus, leques, alfinetes de senhora cheios de classe ou roupas de costureiros caprichosos. Mas também roupas importadas de Londres, luvas francesas, objetos de decoração, candeeiros e caixas de chá (feitas em papel de arroz) e guloseimas alemãs, francesas, italianas… E ainda há bombons em caixas esquisitas com histórias fantásticas ou chocolates artesanais belgas para deliciar a mais exigente das bocas. Ou as miniaturas de ovos com amêndoas, inspirados nos ovos da Corte russa. Tudo boas razões para ir e voltar à Feitoria que é na Guarda. Mas neste Natal há ainda mais.

Este ano, a feitoria inspira-se na personagem de Alexandre Magno, que homenageia enquanto conquistador «contra a estigmatização sobre os sírios, à guerra e aos atentados» porque as «pessoas misturam tudo» e, por isso, Pedro Paiva explica que este «grande guerreiro, que chegou ao Tibete» e cujo império se baseou numa ponte cultural entre o ocidente e o oriente, «que não impôs», que permitiu que os povos mantivessem «as suas diferenças, a sua cultura, a sua arte» e é também «essa ponte que queremos fazer» com o desejo de que a harmonia entre os povos «fosse a palavra-chave neste Natal na Feitoria». Quanto à reação dos guardenses, Pedro Paiva comenta que teve surpresas muito agradáveis e explica o sucesso das «pastelarias sírias, que são fantásticas, com pouco açúcar, feitas delicadamente, são uma obra de arte, feitas por um dos pasteleiros da Casa Real belga, que é um sírio radicado em Bruxelas há 40 anos». E as pessoas ficam ainda «mais surpresas quando digo que estes candeeiros vieram da Síria, de Alepo, porque desconhecem que o vidro foi inventado pelo sírios há milhares de anos e que foi ali que se inventou a técnica do sopro do vidro». Pedro Paiva recorda que Alepo é atualmente uma cidade destruída e acredita que comercializar estes artigos é também uma forma de homenagear os artesão e os artistas desses territórios «barbaramente destroçados», até porque «qualquer dia nada disto existe» e desta forma pode ajudar «a preservar coisas muito bonitas e que fogem ao design tão igual e industrial que encontramos por todo o lado». É esta extravagância que encontramos nesta loja, que nos propõe este Natal viajar pelo Oriente sem sair da Guarda.

Luís Baptista Martins

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