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«A exposição da Carta de Pêro Vaz de Caminha foi um reencontro de Belmonte com a sua própria história»

António Dias Rocha, presidente da Câmara de Belmonte, a propósito de um acontecimento cultural e histórico único

P – A exposição da Carta de Pêro Vaz de Caminha é um acontecimento cultural e histórico na região e no país porque documento nunca foi exposto ao público em Portugal fora da Torre do Tombo. Que argumentos invocou o município para o trazer para Belmonte?

R – É um documento da Humanidade, mas é muito nosso… A Carta foi escrita a mando de Pedro Álvares Cabral para dar conhecimento a el-rei D. Manuel I do achamento daquelas terras. Uma carta que, certamente, esteve nas mãos dele… É o mais próximo que podemos chegar junto do herói desta terra. Há assim uma há uma ligação histórica, mas também sentimental. A “Carta de Pêro Vaz de Caminha” é um documento classificado como património nacional, inscrito pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), no Registo da Memória do Mundo, que apenas saiu uma vez de Lisboa, para o Brasil, no âmbito das comemorações do quinto centenário do seu descobrimento. Que outro lugar para expor a “carta” que não fosse Belmonte?

P – Qual o impacto desta exposição da Carta de Pêro Vaz de Caminha em Belmonte?

R – É um documento valioso que nos narra a chegada de Cabral às terras do novo mundo, terras de Vera Cruz, hoje Brasil… E é de uma qualidade literária para a altura perfeitamente notável. Descrições fantásticas das terras e, sobretudo, das gentes. E que nos permite também traçar um perfil humanista de Cabral! Esta exposição foi um reencontro de Belmonte com a sua própria história.

P – Quantos visitantes já foram ver a exposição?

R – Em finais de setembro tínhamos oito mil visitas, mas esperamos chegar às 10 mil até final deste mês. Recordo que, por motivos de seguranças, para manter a temperatura da sala, só são possíveis visitas de grupos com o máximo de seis pessoas. O que nos limita muito nas marcações de grupos grandes, como é o caso das escolas!

P – A autarquia tem prevista alguma atividade com as escolas no âmbito desta exposição?

R – Belmonte sempre teve uma preocupação pedagógica em apresentar a sua história. É um orgulho do passado mas um foco de conhecimento que queremos transmitir aos mais novos. Queremos contribuir para que as novas gerações gostem de história e se interessem por estes temas… A reação tem sido boa. Escrevemos a todas as escolas do país, convidámos professores e alunos para que nos visitassem e têm sido muitos os que responderam ao convite. Há também uma campanha de promoção que inclui “outdoors”, publicidade, informação para escolas e universidade com o objetivo de divulgar este acontecimento único… Estamos até ao momento a ter uma boa resposta do público, esperemos que este número siga em crescimento até ao final do mês. É um momento único de cultura e ligação entre os dois povos, mas também um símbolo da história universal que ninguém deve perder!

P – Na vila de Pedro Álvares Cabral, onde há o Museu dos Descobrimentos, este é o documento que falta para completar o entendimento da descoberta do Brasil. O que pode ficar depois desta atividade?

R – O Museu é, em si, um centro interpretativo das Descobertas, com um foco especial na viagem de Cabral. A “Carta” já está lá evidenciada, mas é claro que ter entre nós o “original” dá uma sensação forte. Uma coisa é falar de alguém distante, outra é poder abraçá-la – é quase o que sentimos com esta exposição. Depois da exposição oficial, ficará um “fac simile” para perpetuar o documento em Belmonte!

P – O tem feito o município para divulgar o concelho junto do mercado brasileiro e com que efeitos?

R – Dizemos com orgulho que “Em Belmonte nasceu o Brasil”. É claro que se trata de uma metáfora, mas serve para assinalar esta ligação umbilical que nos liga àquelas terras via Pedro Álvares Cabral, filho de Belmonte. Temos o Museu das Descobertas ligado à grande epopeia de Cabral e um sem número de atividades, como já referi. Temos por isso uma divulgação constante de Belmonte como um todo, a “Carta” foi mais um incentivo, e realmente as visitas foram em grande número. É a “certidão de Nascimento” do Brasil, tem por isso um significado grande para todos os brasileiros. Quando fomos à Torre do Tombo, levámos connosco um representante da tribo Pataxó, que habita ainda o monte Pascoal, descrito na “Carta”….

P – Qual a expressão do turismo brasileiro em Belmonte. Recebem muita gente? Qual a nacionalidade, além da portuguesa, mais presente?

R – Todo o brasileiro sente uma emoção ao chegar à terra de Belmonte. Começa por encontrar a bandeira do Brasil no torreão do Castelo e depois há a ligação afetiva pelo facto de aqui ter nascido Cabral. Contudo, gostaríamos de ter um poder de atração maior, pois o grande turismo do Brasil fica muito no litoral de Portugal. É preciso cativar mais ainda a sua atenção. Temos ainda muitas visitas, mas muitas mesmo, de grupos de Israel, pois Belmonte tem uma outra vertente muito rica – a sua comunidade judaica, que aqui tem permanecido durante séculos.

P – Com esta exposição, Belmonte quer afirmar-se como polo de referência nas rotas do turismo cultural e histórico? Que outros projetos poderão surgir nestas áreas?

R – Podemos definir em Belmonte o Turismo Documental como uma vertente inovadora em todo o país. E desde já posso afirmar que estamos a negociar com a Torre do Tombo uma nova exposição que será inaugurada, em princípio, a 13 de novembro no torreão do castelo de Belmonte. Daremos conta da novidade em breve!

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