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A eutanásia e a forma menos eficaz de a abordar

Lançar temas que se relacionam intrinsecamente com a nossa Vida e a nossa Morte, para a praça pública, tal como foi recentemente feito, criando uma equipa a “favor de um lado” e outra do “contra do outro”, talvez não seja o mais indicado.

E, juntando o debate deste tema tão importante, que deverá mais abrangentemente ser chamado de Morte Assistida, com uma série de outros assuntos que se “atiram” pública e publicadamente para ser por todos e cada um discutido, mais um batalhão de comentadores que tudo sabem comentar, como se fosse uma banalidade qualquer que amanhã é substituída por outra, é muito, muito pouco.

E, facilmente se constata, se assim se quiser proveitosamente fazer, que se cria uma tal confusão e banalização do assunto que fica dominado por sentimentos instalados e frases feitas, já sem conteúdo.

E com estes estereótipos já em desuso, “encosta-se” no contra os católicos, os de direita, e a favor os não-crentes e os de esquerda, e “isto” hoje já não correspondendo de forma alguma à realidade.

Por outro lado, não se começa por algo que já é legal, e que cada um caso o pretenda livre e informadamente o pode fazer, que é o Testamento Vital, que existe, sendo desconhecido pela maioria dos nossos concidadãos, ou não se fazendo a mínima ideia do seu conteúdo, por ter “passado” no meio de banalidades que fizeram as noticias na altura, da sua mais efetiva entrada em vigor em julho de 2014.

Esperemos assim, que depois de outros temas que estão “em cima da mesa” – como hoje é uso e costume dizer – e mais uns quanto em catadupa para lá possam “ser atirados”, os ânimos se esfriem, e se possa pretender fazer uma abordagem mais calma, explicativa e desapaixonada da “morte assistida” – vulgo, eutanásia!

Nesse momento sendo indispensável a temática e as abordagens serem feitas com mais razão e menos emoção, muito menos agressividade e arrogância de todos, todos os lados, e sem preconceitos, que se arrastam faz décadas. Havendo sempre e ainda bem, quem esteja de acordo e quem discorde, mas sem berros, nem zangas! E até quem possa mudar lúcida e informadamente de opinião!

Já estamos com posições totalmente extremadas, mesmo que nem se saiba de facto do que se está a tratar, mas sendo um tema público e publicitado todos de imediato se tornam entendidos, peritos, e até opinadores.

Já só se vai “atrás” da pessoa que fala bem e defende um qualquer “dos campos”, em vez de se querer saber mais e mais do que se está a tagarelar. Já se discute se é a Assembleia da República que vai decidir, ou terá que ser feito um Referendo, e já se “puxa” o eleito Presidente da República para a confusão, e o essencial está por esclarecer. E já se fala se a alternativa será matar velhos, doentes, inválidos como Hitler fazia, ou se, se vai agarrar a vida como se fim não tivesse!

Esperemos então, melhores tempos e vontades para tratar deste tema, que faz parte na nossa Vida e da nossa Morte, e ainda para mais com a única certeza que temos no momento em que nascemos, que vamos um dia morrer. Quem estas linhas escreve já tem a sua opinião formada e assumida, mas não é para aqui e agora chamada, apesar de assumida sem reservas!

Augusto Küttner de Magalhães, carta recebida por email – Fevereiro de 2016

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