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A estratégia de animação social de Gouveia vista por um senense

Na ânsia de suprirem necessidades globais e de tentarem atrasar o mais possível a inevitável desertificação – completamente incapazes de trabalhar em conjunto – gastam as câmaras das pequenas cidades autênticos rios de dinheiro na promoção dos seus territórios e destinos turísticos. Na de Gouveia, então, não se vê o fundo ao tacho. Não há quinzena em que não se verifiquem festanças e actividades e iniciativas de animação à força toda. Ainda agora acabaram as festas do Sr. do Calvário e já vai haver a Festa da Praça. Em Seia, nem Fiagris nem Festas da Cidade, e conseguiram até acabar com o já tradicional Julho em Festa. Não se passa rigorosamente nada. (…) Sempre nas televisões, a puxar pela sua terra, continua Álvaro Amaro (AA), lembrando ao país que Gouveia existe, após 20 anos de decadência e esquecimento. Durante as três horas de emissão na RTP, dedicadas à Volta a Portugal em bicicleta, o edil ousou afirmar que «Gouveia é a porta da serra». Que heresia, para o senense estático!

Mas poderá AA evitar o que parece inevitável? A morte anunciada da sua pequena cidade rural? Pelo menos tenta atrasá-la. Ninguém o pode negar.

– «Transfusões sucessivas para um moribundo» – desdenham os detractores senenses. Mas, se nada fizesse, Gouveia já tinha mesmo fechado a porta e apagado a luz.

– «Quem cá ficar que pague as facturas!» – comenta-se, jocosamente, por aqui. Mas acontece que uma programação atempada permite a candidatura a programas e subsídios impensáveis para a inexistente programação cultural senense. Álvaro Amaro sabe o que quer para a sua cidade letárgica. Definiu uma estratégia – a Cidade Aventura – e segue-a à risca. É questionável, como tudo na vida, mas havendo um rumo, pode avaliar-se o seu sucesso. E palavras como: rumo, estratégia, plano são proibidas aqui em Seia. Aqui é tudo à deriva. A imagem que passa para o cidadão é a de que ninguém trata daquilo que Eduardo Brito não tratar, pessoalmente. E depois as coisas não acontecem. Não há desenvolvimento nem bem-estar social. Há obras de cimento, apenas. Isso há.

Mas é preciso não descurar a parte humana, a interacção social, em que a cultura e o lazer são fundamentais. Um povo que participa, que discute, que interroga, que aprecia e comenta o que lhe é dado ver e ouvir, é um povo com futuro. (…) Por isso, mesmo que os seus esforços se revelem, a médio prazo, infrutíferos, Álvaro Amaro está do lado certo da História.

João Tilly, Seia, carta recebida por e-mail

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