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A esperança natalícia

Habituámo-nos, desde pequenos, a fantasiar o tempo de Natal com tal expectativa de festa e alegria que, muitas vezes, somos incompreendidos quando dizemos e repetimos em voz alta as nossas preocupações. Estas são remetidas para um cantinho escuro das nossas memórias, neste final de ano. Temos a tendência para tentar esquecer as dificuldades e preocupações que nos assolaram durante o ano. E é um bom princípio. Tentámos esquecer os problemas para dar espaço à entrega aos amigos, aos familiares, aos afetos e à alegria do momento.

2016, tal como 2015, ou 2014, foi um ano difícil, onde continuaram a pesar as dificuldades decorrentes da crise económica e financeira. O impacto social desta crise foi particularmente sentido na área da Saúde. Portugal despende 5,8% do PIB para a Saúde, um dos valores mais baixos da OCDE. Mas, em contrapartida, o setor privado, que representa 3%, é dos mais altos. As famílias portuguesas são das que mais gastam com a sua Saúde, sendo Portugal o sexto país da OCDE com maior esforço das famílias, só ultrapassado pela Hungria, pela Grécia, por Chipre, por Malta e pela Bulgária.

O dia-a-dia ilustra-o perfeitamente: doentes a faltarem às consultas programas, a selecionarem a compra de alguns medicamentos da totalidade dos que lhes são prescritos e todas as dificuldades de acesso equitativo aos serviços de saúde.

Mas, esta época tem de ser de esperança ativa, reivindicativa e de luta permanente por um sistema de saúde de qualidade e acessível a todos os que necessitam dele. Tal como nos outros dias, não podemos perder a coragem de lutar contra a doença, contra o sofrimento, contra a insensibilidade, contra as dificuldades – cada vez mais profundas.

Vivemos, porém, num tempo em que surgem cada vez mais obstáculos à atividade do profissional de saúde. Em circunstâncias particularmente difíceis, mau grado as restrições económico-financeiras e com os profissionais de saúde exaustos, não podemos vacilar.

A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, consciente da importância do seu papel na defesa da qualidade da saúde, sempre se comprometeu com a defesa dos valores do humanismo, com a defesa do bem-estar e saúde dos seus associados estando, dessa forma, a defender os doentes.

Nestes tempos de crise e de aperto financeiro, não podemos olhar para os problemas da Saúde apenas do ponto de vista aritmético. A carência de recursos humanos, de equipamentos, de material e de fármacos obriga a um esforço redobrado e a desafios enormes.

Ver, olhar, escutar o Doente. A Pessoa.

Recentrar a importância dos profissionais, médicos, enfermeiros, técnicos e outros profissionais de saúde como a verdadeira sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde.

Valorizar o esforço, o mérito dos profissionais de saúde que têm sido o verdadeiro pilar do sistema de saúde português.

Tudo isto, mais do que presentes para este Natal, seria o verdadeiro espírito desta quadra e o reconhecimento de que a esperança nos trará, cada vez mais, uma medicina de qualidade.

Defender um sistema de saúde de face humana: é essa a nossa principal esperança e motivação diária.

Por: Carlos Cortes

* Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos

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