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À espera da política

Editorial

1. Quando era expectável que o novo governo trouxesse mudanças e implementasse um plano para ultrapassar as dificuldades, conclui-se que, mesmo querendo ser condescendentes para quem acaba de chegar, é uma desilusão. Passos Coelho prometeu não aumentar impostos e que, se tivesse que o fazer, seria sempre pelo lado do consumo e jamais pelo lado do trabalho. Fez rigorosamente o contrário. Vai levar metade do subsídio de Natal. Quiçá o aumento de impostos não fique por aqui, mas parece evidente que deixar de fora a taxação de mais-valias financeiras para ir ao bolso de todos os trabalhadores é um erro político que conduzirá a uma maior retração na economia.

Passos Coelho também assegurou que iria diminuir a “gordura” do Estado e, afinal, pouco se está a cortar na despesa, para além da folclórica e patética medida da ministra do Ambiente de reduzir os custos de energia desligando o ar condicionado…

Passos Coelho anunciou, isso sim, que iria privatizar tudo o que pudesse. Mas vender todos os anéis pode contribuir para reduzir o défice hoje, mas não permite optimismo para o futuro. E é inaceitável a privatização das águas…

2. A situação financeira da Câmara da Guarda é preocupante. Pode haver divergência entre a maioria (PS), que só reconhece 55 milhões de dívida, e a minoria (PSD), que afirma categoricamente que é de 61 milhões. Em qualquer dos casos é um valor elevadíssimo (colossal… como se diz agora!). E mais ainda se recordarmos que Rui Quinaz afirma que o “grupo câmara” deve 71 milhões de euros, mesmo que Joaquim Valente queira relativizar os números, por considerar que eles partem de uma premissa contabilística errada por parte do vereador do PSD, a verdade é que é difícil vislumbrar futuro para um município cada vez mais endividado, com a despesa a crescer e a receita a diminuir. Em 2005 devia perto de 35 milhões de euros, seis anos depois a dívida é de cerca de 60 (55 para Valente, 61 para Quinaz) sem que se conheça investimento que justifique tão grande buraco.

Perante as enormes dificuldades de tesouraria da autarquia, o executivo pretende agora avançar com a reestruturação da dívida, “transformando” a de curto e médio prazo em dívida de longo prazo. Ou seja, mandar para os vindouros os custos e erros da gestão do presente.

3. O problema do país é grave, mas conjuntural. A situação é adversa mas interligada e conexa com o que se passa na Europa. A sua resolução depende do governo nacional, da sua capacidade e rigor, mas também, e sobremaneira, das soluções europeias. Da política da União e da recuperação económica internacional.

O problema da Guarda é estrutural. Advém dos muitos erros cometidos, e vai continuar a adensar-se pela falta de capacidade para mudar o paradigma e encontrar soluções de crescimento – que não se conseguiram em tempos de “vacas gordas”… São necessárias ideias e novas políticas.

Luis Baptista-Martins

Comentários dos nossos leitores
Mário Santos marsantinho@sapo.pt
Comentário:
Tal como Sócrates, que em apenas seis anos duplicou o valor da dívida portuguesa, também Valente conseguiu a mesma proeza. Se o primeiro atirou Portugal para o caixote do lixo, o segundo conseguirá anular todas as hipóteses de futuro desta cidade. Se Sócrates foi um excelente ( lol ) primeiro ministro, conforme escreveu em editorial, o diretor deste jornal, é evidente que não podemos deixar de atribuir o mesmo galardão a este excelente ( lol ) presidente de câmara. Curiosamente o director perguntava no título da semana passada se ninguém ia preso, considerando o miserável estado do país. Para além dos nomes de alguns presidentes de câmara que terão dado emprego a familiares, apenas apareceu o nome de Alberto João Jardim. Com tão excelente avaliação, pode o ilustre diretor, ter a certeza de que nem os excelentes serão atribuídos aos melhores professores, nem os responsáveis pela ruína deste país serão responsabilizados.
 
Jorge Ribas ribasjorge@sapo.pt
Comentário:
O que interessa ser 55 ou 61? Um ou outro é elevado. O mais preocupante é que, a nivel nacional, as câmaras têm dívidas astronómicas. Enquanto não se aprender que gerir o bem público tem que ser como gerir as nossas casas é dificil equilibrar as contas.
 

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