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«A Escola Profissional está aqui para durar»

António Oliveira – presidente do Conselho de Administração da Escola Profissional de Trancoso

P – Iniciam-se agora as matrículas para frequentar os diferentes cursos da Escola Profissional de Trancoso (EPT). Quais são as novidades de oferta para o próximo ano letivo?

R – A Escola Profissional de Trancoso tem quase 22 anos de existência e com propostas que têm vindo a ser reconhecidas, não só em termos de mercado de trabalho, mas também pela procura de jovens que ano após ano escolhem a EPT. Nós temos uma proposta de abertura de novos cursos, como Animador Sociocultural, Contabilidade, Manutenção Industrial – que tem a ver com mecatrónica automóvel – Instalações Elétricas, Comunicação, Marketing e Relações Públicas e Informática de Gestão. São estes os cursos que pretendemos este ano disponibilizar a todos aqueles que procuram a escola. Este não é um centro de formação, porque a escola tem cerca de 20 professores em dedicação exclusiva. Eles vivem este tipo de ensino, não vêm aqui apenas dar umas aulas, o emprego deles é este, a tempo inteiro. É um projeto sério onde se apostou num corpo docente permanente e muitos dos professores com experiência de vários anos, por terem começado a trabalhar na escola desde que abriu. Se fosse encarregado de educação, seguramente teria isto em conta, na hora de optar por um estabelecimento de ensino, na área profissional. Porque a verdade é que existem outras ofertas onde o corpo docente não se dedica em exclusivo à escola, vai apenas fazer algumas horas de formação.

P – Quais são os critérios que a EPT tem vindo a definir na escolha da oferta letiva? Procuram oferecer cursos que se adaptem mais facilmente às saídas profissionais existentes na região?

R – Naturalmente que a escolha que fazemos dos cursos tem a ver com o critério de serem bem sucedidos do ponto de vista da empregabilidade, mas também procuramos oferecer as áreas que têm maior procura por parte dos jovens. É em função dessa procura e de uma avaliação que fazemos junto das empresas que definimos anualmente os cursos a lecionar.

P – Quais são os cursos com mais procura até ao momento?

R – Ainda é prematuro fazer essa avaliação, porque muitos estudantes só fazem a matrícula mesmo no final deste ano letivo, porque estão ainda à espera das notas do ano corrente. Estamos neste momento a fazer uma campanha de divulgação da escola, até porque temos escolas concorrentes, já que agora os estabelecimentos de ensino públicos já têm oferta letiva na área profissional. Mas nós estamos aqui para continuar um projeto e servir o interesse da região e este foi aliás o objetivo que norteou a constituição da escola. Na altura fomos apoiados para responder a necessidades regionais existentes. E agora a verdade é que nos ressentimos com o facto de haver oferta profissional nas escolas básicas e secundárias nos diferentes concelhos do distrito.

P – Este é um momento de crise no país e muito se fala na falta de emprego. Na sua opinião, o ensino profissional passará a ter mais relevância nos próximos anos?

R – Isso tem vindo a acontecer há anos. O tecido empresarial não necessita só de quadros superiores, precisa igualmente de técnicos intermédios. E o ensino profissional continua a estar perfeitamente adequado e a responder às necessidades do mercado de trabalho.

P – No seu entender, quais são as áreas em que será mais fácil encontrar emprego?

R – Todos estes cursos têm a ver mais com a área tecnológica, todos eles são respostas às necessidades do nosso tecido empresarial na região. Devo dizer que a escola bate-se neste momento com um problema, porque alguém fez constar na comunicação social que a EPT está para fechar. E esta é uma falsa questão. A nossa escola é a entidade mais antiga, que responde ao mercado em termos de ensino profissional. Estamos aqui para durar. Seguramente esses boatos partem de outras entidades interessadas em valorizar antes a sua oferta e colocarem-nos ao mesmo tempo numa situação difícil. A EPT não está para fechar, tem 22 anos de maturação, tem um corpo docente estável e profissionalizado. Esta foi de facto a primeira e grande oferta de ensino profissional do distrito da Guarda e vai continuar a sê-lo.

P – Os boatos sobre o fecho da escola surgiram depois da situação dos salários em atraso. Essa questão está ultrapassada?

R – Foi uma situação completamente externa à escola e que teve a ver com a mudança do sistema de financiamento às escolas profissionais. Não é a primeira vez que isto acontece, já houve situações semelhantes nos anos 90 de três, quatro meses de salários em atraso. Só há questões destas porque nós temos um corpo docente a funcionar a tempo inteiro. Os vencimentos dos professores estão em dia desde o passado mês de abril e vão estar seguramente nos próximos meses. Mas o público em geral e os encarregados de educação não podem tomar o todo pela parte e imaginar que esta situação põe em causa a escola, apenas porque houve um problema laboral. Está tudo regularizado, não há nenhum funcionário ou docente que tenha um único vencimento em atraso e estou em condições de dizer que essa será a prática futura.

P – Além das disciplinas afetas a cada curso, a escola promove também atividades extra-curriculares. Que tipo de iniciativas estará em destaque no próximo ano letivo?

R – Esta escola sempre teve uma grande interação com o tecido económico da região, tanto no concelho de Trancoso como nos concelhos limítrofes, participando na animação do território. E esse é um desafio que nós sempre assumimos ao contrário de outros projetos de escolas profissionais da região. Nós estamos sempre presentes na animação da região e essa é uma das nossas bandeiras. Queremos ser um agente da dinamização do nosso território. Naturalmente que as atividades em si para o próximo letivo serão depois decididas pelo próprio conselho pedagógico da escola.

P – Quais os principais objetivos da EPT para o próximo ano?

R – Queremos continuar a desenvolver o nosso papel, formando técnicos intermédios, que possam responder às necessidades da região em áreas como informática, eletricidades, instalações elétricas, contabilidade, entre outras. Este nosso trabalho é reconhecido pelas instituições e estamos disponíveis para continuar a fazê-lo sabendo que estamos a trabalhar para desenvolver a região.

P – Tem sido difícil lidar com a “concorrência” de outros cursos profissionais na região, uma vez que há cada vez mais escolas básicas e secundárias a apostarem também no ensino profissional?

R – É uma situação difícil. Naturalmente que o facto do estado ter apoiado projetos de escolas profissionais como esta, com a concessão de instalações, reconhecendo que eram projetos de dimensão regional, que levaram ao investimento de milhões de euros com a afetação de recursos do estado, da comunidade europeia e das autarquias,. Há diversos casos de projetos regionais deste género no país. Foram apoiados por vários governos. E claro que agora a decisão de passar a haver também oferta profissional nas outras escolas fez com que nos ressentíssemos, porque antes respondíamos a necessidades regionais e a escola foi concebida em função disso. A partir do momento em que temos turmas do ensino profissional em vários outras escolas, é natural que tenha dificultado a nossa existência, quando fomos apoiados para responder regionalmente.

P – Como tem a EPT enfrentado essa concorrência?

R – As escolhas dos cursos sempre foram feitas em função daquilo que nós identificamos como sendo as necessidades da região. O que podemos fazer em relação à concorrência é muito pouco. O que fazemos é renegar e desmentir aquilo que puseram a circular na comunicação social de que a escola iria fechar. Isso é seguramente algo que está a ser conduzido por aqueles que gostavam de ver este projeto falhar. E este é

P – A EPT conta já com 22 anos de existência. Qual é o balanço que faz deste período?

R – É um balanço claramente positivo. Foi um projeto que abraçámos, que entendemos que era importante a formação e a qualificação dos recursos humanos, como forma de capacitar o capital humano para o desenvolvimento da região. E desempenhámos claramente esse papel e estamos satisfeitos por aquilo que fizemos. Não foi o suficiente para alavancar o investimento mas criámos uma alavanca para esse desenvolvimento.

P – Que importância a escola foi assumindo na região ao longo destes anos?

R – Acho que a escola foi importante na região, porque foi um projeto novo, inovador, que permitiu criar um conjunto de jovens quadros, que se fixaram e profissionalizaram. Foi também uma proposta importante na qualificação dos nossos recursos humanos. E tem dado também o seu contributo para a animação do território.

P – A EPT acolhe alunos oriundos dos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Esse protocolo irá manter-se?

R – Da nossa parte seguramente que sim. Mas há algumas diretivas que ainda não estão bem definidas, sobre alterações por parte do estado português nos apoios que dá ao ensino profissional e que podem pôr em causa a receção desses alunos das ex-colónias portuguesas, nomeadamente de Cabo Verde. Mas neste momento ainda não se sabe. Teríamos todo o gosto em continuar essa parceria. A taxa de alunos que vêm de Cabo verde nunca ultrapassou os 10 por cento. Na altura em que tínhamos cerca de 400 alunos ao todo, dos PALOP vinham apenas cerca de 20. Neste momento em que a escola conta com 265 alunos, temos menos. Havia essa preocupação da nossa parte, que eles pudessem fazer parte da comunidade escolar, mas a grande maioria dos nossos lugares teria de ser para responder a necessidades locais. Os jovens de Cabo Verde são até bons alunos, temos tido uma boa experiência com a receção desses estudantes, mas no futuro a sua manutenção está dependente do estado. Se for possível, dependendo das regras que o Ministério da Educação definir, iremos manter essa parceria com alguns municípios de Cabo Verde.

P – Têm mais de 200 alunos atualmente. O objetivo é manter esse número no próximo ano letivo?

R – Sim, pretendemos manter. Temos uma oferta credível. Sabemos que não podemos ter 400 alunos, como acontecia por exemplo em 2006, pelo facto de ter sido criada uma oferta formativa de ensino profissional em diversas escolas básicas e até mesmo nas secundárias. Além disso, mudou fundamentalmente o modelo de funcionamento. Mas nós temos condições para prosseguir com o projeto.

P – Em época de crise, como vê a EPT o futuro?

R – É com esperança que olhamos o futuro, nós desempenhámos um papel importante no tecido económico da região, ao longo dos últimos 20 anos. Estamos aqui seguros de que vamos continuar a desenvolver uma escola que representa um projeto reconhecido pela comunidade e uma escola que vai receber os jovens da região, dar-lhes uma formação e uma qualificação profissional. O objetivo é continuarmos a nossa missão que definimos aquando da constituição da escola. Estamos aqui para continuar e durar. E é algo malévolo dizer-se que a EPT vai acabar e esse é um boato que é seguramente posto a circular por quem tem interesse num possível falhanço do projeto. Nós estamos convictos de que isso não vai acontecer. Estamos para durar.

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