A Internet é, atualmente, o meio de comunicação preferido dos adolescentes. Uma grande parte considera mesmo que não se pode passar sem a Internet. O próprio instrumento de acesso à Internet é um dos seus atrativos, uma vez que o computador transmite uma sensação de poder a quem sabe utilizá-lo.
A adolescência é naturalmente marcada por períodos em que predominam sentimentos de tristeza, solidão e insegurança. Estes sentimentos são aliviados pela possibilidade de alargar os relacionamentos para além das tradicionais fronteiras sociais e geográficas. Não é, portanto, de estranhar que uma pessoa que se sinta só, tenha tendência para passar mais tempo on-line do que quem não se sente só: encontra, na Internet, um mundo que a ajuda a fugir às emoções negativas associadas à solidão.
Muitos autores falam mesmo em “crise de identidade” na adolescência, tendo esta expressão sido utilizada pela primeira vez pelo psicanalista Erik Erikson (1968). Refere-se a um período – o quinto estádio de desenvolvimento, dos 12 aos 18 anos de idade – em que há uma grande incerteza de papéis a assumir, aliada à preocupação com o que os outros pensam. David Elkind (1978) introduziu o conceito de “audiência imaginária” como sendo uma preocupação dos adolescentes resultante do egocentrismo natural nesta fase de desenvolvimento: o adolescente sobrevaloriza os olhares e avaliações dos outros.
Obviamente, na net, o espaço e o tamanho dessa “audiência” são ilimitados, no entanto, o controlo que se consegue obter sobre a apresentação pessoal é maior do que, por exemplo, na escola.
Analisando, ainda, o trabalho de Erikson, um adolescente deve desfrutar de um período de espera, de experimentação e de ajustamentos dos vários papéis sociais.
Existem, na sociedade ocidental, variadas instituições e estruturas sociais que facilitam ou inibem a experimentação de papéis típicos deste estádio de desenvolvimento – são as “moratórias institucionalizadas”. A partir delas, o adolescente usufrui de diferentes modos de socialização que o podem ajudar a resolver a sua crise de identidade.
Pensamos que, na sociedade atual, uma das “moratórias institucionalizadas” é a Internet.
Os adolescentes consideram que é fácil usar a Internet e são atraídos pelas salas de chat e jogos on-line, onde podem experimentar e desempenhar diferentes papéis, assim como estabelecer relações com pessoas que partilham dos mesmos interesses. Os chats são cativantes, pertencem a um universo em que os papéis são variados e os limites são os da imaginação. Existe a possibilidade de assumir identidades diferentes e trocar impressões sobre tudo e sobre nada. O grau de anonimato influencia o comportamento e diminui o grau de inibição, isto é, diminui os constrangimentos sociais normais do comportamento. Como diz Wallace (2001) «A Internet é um laboratório da identidade cheio de personagens, audiências e suportes para as nossas experiências.»
Se tudo isto explica a rápida adesão dos adolescentes à Internet, a sociedade e a escola devem estar atentos ao adolescente, procurando encontrar respostas para estas duas questões: Que riscos poderão estar associados à utilização da Internet? Como é utilizado o tempo que os adolescentes passam on-line?.
Mas antes, que a resposta chegue, e porque a escola já existia antes de haver Internet, deve-se utilizar toda a experiência de que se dispõe no meio, para fomentar a socialização da comunidade escolar, diminuindo a competição desmedida, de forma a elevar a qualificação académica e social de todos os intervenientes no processo educativo.
Ana Margarida Cardoso