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A Era do Grande Nada

Ladrar à Caravana

Ou apenas uma longa silly season que começa agora e vai durar pelo menos dois anos? Uma coisa é certa: embora o Senhor Presidente não tenha seguido o meu conselho e decretado o fim da República e a implantação de uma Monarquia Rotativa, acabou por produzir, com a decisão que tomou, um efeito similar aos seus discursos. Tento explicar: o homem é capaz de estar uma hora a falar sem dizer nada que se entenda. Do mesmo modo, arranjou semelhante confusão com a nomeação do actual PM que acho que nem o próprio percebeu ainda muito bem o que lhe aconteceu. E se ele está às aranhas, que dizer de nós todos, na iminência de apanharmos com uma nomeação à última hora para uma secretaria de estado dos assuntos imprevistos ou mesmo para uma direcção-geral dos impostos ainda não inventados? O céu, nestas coisas, é o limite. E mesmo para o céu se pode inventar um ministério… se o mar tem direito, por que não o céu, que até é maior? Por mim, já sabem, em nome do dever, estou disponível para arcar com tão grande sacrifício. Grande patriota e cidadão, é o que eu sou…

Mas voltando à vaca fria, a sucessão hilariante de eventos típicos da silly season, desde que Santana Lopes foi nomeado, as entrevistas trapalhonas aos media, a revelação dos nomes dos ministros a conta-gotas, a tomada de posse mais chata da nossa história recente (chata, mas simultaneamente reveladora da trapalhice de quem escreve e declama os discursos oficiais) até à novela da deslocalização das secretarias de estado, tudo isso, mais a visita dumas damas muito bem apessoadas “ao Pedro”, possivelmente para assessorar a decoração de interiores do Palácio de S. Bento, terrivelmente démodé, totalmente out das trends actuais ditadas por Paris, Roma, Nova York ou Tóquio, tudo isso tem sido um maná para quem, como eu, não tem nada de mais importante para fazer ou observar. Pelo menos, varia-se um pouco. Deixam de ser apenas futebolistas ou treinadores, actores de novela, manequins ou comerciantes de jóias. A alta roda da política entra, finalmente, pela porta grande do Grande Nada Noticioso.

E mesmo assim, aposto, há-de aparecer alguém a acusar este governo de inoperância, incompetência e outros adjectivos similares. O que é duma enorme injustiça.

Mas também achei injusto que não tivessem instalado, sei lá, uma secretaria de estado dos transportes marítimos aqui na Covilhã. E o argumento de que a Covilhã não tem mar não pega: o Pêro (daqui mesmo, da Covilhã) e o outro tipo de Belmonte, o Cabral, também não tinham o mar à porta de casa e fartaram-se de andar embarcados. Portanto, por aí, não me convencem. Isto é discriminação pura.

Quando houver eleições, vão ver como lhes dói. Ai vão, vão.

Por: Jorge Bacelar

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