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«A direcção nacional do CDS-PP não nos pode obrigar a fazer uma coligação com Ana Manso»

Entrevista

P – Como classifica a actuação de Maria do Carmo Borges e de Ana Manso durante este mandato autárquico?

R – Maria do Carmo Borges tem deixado muito a desejar como presidente da Câmara e é ela que temos que responsabilizar quando as coisas não correm bem. Toda a gente sabe que esta não é uma Câmara séria, que há problemas e “reizinhos”, que há o construtor e o empreiteiro do regime, ou funcionários com um salário miserável e uma vida de ostentação incrível. A Câmara é talvez a segunda maior empregadora da cidade, por isso quem tratar bem as pessoas que lá estão e os seus familiares tem o que quer. Tudo isso se passa e é sabido na cidade e na autarquia. Os próprios funcionários do município que não são os “eleitos” já começam a ficar seriamente revoltados. Aquela “casa” precisa urgentemente de uma reorganização, já que a maior parte das pessoas não está no lugar certo.

P – Quanto a Ana Manso?

R – Para nós está perfeitamente descredibilizada. Ana Manso nunca mais vai ter os votos obtidos em 2001, quando havia muita gente que acreditava que a senhora podia fazer alguma coisa. Penso que não é a pessoa certa e que o PSD não ganhará a Câmara com ela como candidata, pelo que vamos continuar na mesma.

P – Acredita que o PS poderia ter perdido a Câmara da Guarda se tivesse havido uma coligação da direita nas últimas eleições?

R – Não tenho dúvidas que teríamos ganho com as pessoas certas e a união da direita. Falta é gente capaz e credível no PSD, como Álvaro Amaro. Não o conheço pessoalmente nem nunca falei com ele, mas parece-me um político diferente. É um homem ambicioso, que quer mostrar trabalho para poder ir para onde quer – Coimbra -, já esteve no Governo e por isso tem uma tarimba diferente. José Gomes ou Júlio Sarmento poderiam ser outras pessoas certas para abanar este marasmo de uma vez por todas.

P – Como vê o problema da falta de estacionamento na cidade?

R – É o problema mais grave da Guarda e tem havido muita incompetência da Câmara na sua resolução, pois tem-se escudado num futuro centro comercial na Avenida dos Bombeiros. Uma cidade não pode resolver os seus problemas com a probabilidade de um particular construir ou não um parque de estacionamento, que nunca servirá a cidade mas sim os utilizadores desse espaço. A autarquia já devia ter resolvido esta necessidade há muito tempo. Mas, como sempre, na Guarda começa-se tudo ao contrário, na medida em que antes de se fazer a requalificação da Praça Velha deveria ter-se pensado seriamente numa alternativa de estacionamento. Por isso digo que se a Câmara da Guarda fosse uma empresa privada, o Conselho de Administração já tinha sido corrido há muito. Defendo o estacionamento no Jardim José de Lemos, por ser central e permitir requalificar o próprio jardim, que bem precisa.

P – E na Praça Velha?

R – Nunca! Deve ser uma fonte de problemas em termos de obras por causa do IPPAR. Os comerciantes têm razão em reclamar por a intervenção ter começado nesta altura, já que não se vê muita pressa em avançar com os trabalhos. Na Rua do Comércio retiraram o pavimento e foram fazer obras para outro lado. Na Praça Velha só vejo um monte de terra, entulho e umas placas, mas nada de obras.

P – Quanto à CulturGuarda, como vê a criação de uma empresa municipal numa altura de contenção e de dificuldades económicas para particulares e autarquias?

R – Acho que não faz sentido nenhum. Para já, a cultura na Guarda não é para todos e é determinada segundo os gostos e os estados de alma de um grupo de pessoas. Quanto à CulturGuarda, faço minha a posição de Pereira da Silva na última Assembleia Municipal. Aquele estudo económico-financeiro é ridículo – fiquei muito contente com a aprovação da moção de Baltazar Lopes -, foi feito em cima do joelho com pressupostos errados e valores irrealistas. No primeiro ano esperam vender 80 por cento dos catálogos das exposições – a 10 euros cada – e depois 90 por cento, é um dado revelador do conto de fadas que vai ser a CulturGuarda. Sem esquecer que a Câmara passa a ser concorrente dos comerciantes ao abrir bares e cafés naquele espaço que vão esvaziar os que já existem. É lamentável que o faça à custa dos nossos impostos. É certo que a sala de espectáculos é uma bela obra que vai ter de funcionar, mas por que é que a sua gestão não se faz a partir da Câmara por Américo Rodrigues – se queriam que fosse ele -, sem necessidade de aumentos de vencimentos. Admito que as pessoas têm que ser bem pagas para fazer um bom trabalho, agora ele não é tão bom como dizem. Com o dinheiro que tem gasto com ele e com os seus espectáculos na Guarda já cá não estava se fosse realmente bom. Este caso revoltou as pessoas porque tiveram conhecimento dos dados, o que não aconteceu na PolisGuarda onde muito poucos sabem quanto auferem os seus responsáveis.

P – Justamente, como vê o programa Polis para a Guarda?

R – O problema é que não se vê. Há a obra da Avenida da Estação, a vergonha do “bebedromo”, a Praça Velha, os vencimentos e mais nada. Agora não se sabe quando é que acaba e eu interrogo-me se o administrador-delegado e o director-executivo vão continuar a ganhar os respectivos ordenados ou se isso também vai ser alterado. Caso contrário, aquilo é uma “galinha dos ovos de ouro”. Quanto ao Parque Urbano do Rio Diz, acho que a Câmara não sabe onde se está a meter porque só para cortar a relva naquela área toda serão precisos mundos e fundos. Se avançar, teremos ali outro “elefante branco”, desses que a autarquia gosta de criar e que não servem para nada, pois quem irá desfrutar daquele parque com o clima da cidade? Não podemos esquecer que deixaram morrer o único parque da Guarda, que podia estar completamente diferente se houvesse maior brio e dedicação da parte dos serviços da autarquia.

P – O que pensa da introdução de portagens na A23 e A25?

R – Sou absolutamente contra. Não temos vias alternativas rápidas e seguras, por outro lado, é nas viagens de longa distância que as auto-estradas fazem sentido e são necessárias. Isentar as deslocações locais é ridículo, porque a maior parte dos guardenses não vai a Lisboa ou a Coimbra passear, mas por motivos profissionais ou de saúde, porque não temos cá nada. Há inclusivamente serviços que foram deslocados para Castelo Branco, pelo que com esta medida teremos que pagar portagens para ir tratar de alguns assuntos. O buzinão pode incomodar muita gente, mas temos que começar a ser mauzinhos. É que só olham para nós nesses momentos. Está visto que o grande problema da Guarda é a falta de gente, a cidade está dependente de empresas que não dão segurança. A Delphi, por exemplo, pode já não estar cá amanhã. O que será da Guarda se se perderem aqueles quase três mil de postos de trabalho? É um drama. O que precisamos é de empresas como os Tavares, que existem há 80 anos e estão para ficar, e de pequenas e médias empresas, pois as grandes são sempre um mal a longo prazo.

P – Esse trabalho de atracção de investidores não tem sido feito na Guarda, ao contrário de outras localidades vizinhas que conseguem cativar empresários. A que se deve essa situação na sua opinião?

R – À gestão camarária, que não tem visão empresarial para a cidade e muito poucos contactos ou influência para atrair novos projectos. Quando há pouco falava em Álvaro Amaro era por ser um indivíduo com outros contactos, outra dinâmica e que conhece gente. É imperioso atrair investidores para a Guarda dando-lhes as condições que pedem, como acontece por esse mundo fora. Temos um parque industrial que não existe e a Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial (PLIE) vai pelo mesmo caminho, apesar de ainda não ter nascido.

P – Qual é a sua opinião sobre essa iniciativa?

R – Aquilo está preparado para construir, mas não sei por que espera o presidente do Conselho de Administração. Esse parece ser o problema deste projecto, é que ninguém faz nada e o pior é que há empresas que só estão na PLIE para especular e não para criar dinâmica e emprego, um objectivo de poucos sócios fundadores. O que me parece é que PS e PSD estão a criar uma arma de arremesso político para os próximos tempos. Gostaria de estar enganado, mas duvido que a PLIE se faça porque os empresários não podem esperar tanto tempo que alguém decida o que fazer. O projecto precisa de um empurrão do Governo, porque bem podemos esperar sentados que a Câmara faça alguma coisa. Já os nossos deputados são outros que nada fazem.

P – Qual é a sua posição quanto ao futuro hospital da Guarda, prometido por Ana Manso e que deverá ir a concurso durante o próximo ano?

R – Fico satisfeito pela opção do Parque da Saúde, uma solução que sempre defendemos. Quanto aos hospitais-empresas, também entendo que a saúde tem que levar uma volta muito grande desde que as soluções não ponham em causa os direitos dos utentes e evitem que tenhamos que sair da Guarda para ser tratados.

P – Qual é neste momento o seu relacionamento com o delegado distrital do CDS-PP, João Caramelo?

R – Nós fazemos o nosso trabalho, ele que faça o dele.

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