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«A deriva politécnica das universidades é enorme»

Presidente do IPG reivindica reorganização da rede de oferta formativa no ensino superior

Jorge Mendes está preocupado com o facto das universidades portuguesas estarem a “invadir” um território que anteriormente estava limitado aos politécnicos. Na sessão solene de abertura do ano lectivo do Politécnico da Guarda, na semana passada, o seu presidente assegurou que há dinheiro para o pagamento dos salários, embora tenha lamentado o «desinvestimento» do Estado no ensino superior público.

No discurso, o responsável máximo do IPG realçou que a «deriva politécnica das universidades é enorme», recordando que cursos como Sociologia, Direito ou Arquitectura não foram criados em politécnicos, enquanto que outros como Design Têxtil ou Multimédia foram aprovados em universidades. «As universidades parecem ter dedicado o seu maior esforço em ocupar os espaços dos politécnicos», acentuou, dizendo-se preocupado com uma situação que resultou na «desorganização da rede de formação por culpa de muitas entidades, inclusive das próprias instituições». Jorge Mendes sustenta que «ninguém está inocente» nesta oferta de cursos, «nem o poder local, nem as instituições e, principalmente, a tutela, a quem compete regular». Neste cenário, o presidente do IPG assume recear esta concorrência: «As universidades continuam com as suas formações clássicas, mas, ao mesmo tempo, têm conseguido aprovar cursos em áreas que não são propriamente universitárias, enquanto que aos politécnicos são vedadas as áreas “universitárias”», criticou.

Entende, por isso, que a tutela tem que intervir rapidamente na regulação da rede, lembrando que, «neste momento, pode estar em marcha a criação de consórcios, que não significa a fusão nem extinção de instituições». Passa antes por diversas formações serem geridas num consórcio para que, por exemplo, «um dos parceiros dê uma formação e outros possam dar outra». Um caso concreto tem a ver com a possibilidade de haver mestrados conjuntos, nomeadamente nas áreas de Comunicação e Multimédia e Línguas e Culturas, entres os Politécnicos da Guarda e Leiria. Na sua intervenção, Jorge Mendes também sublinhou que os politécnicos e as universidades são «dos poucos serviços públicos que, ao longo da última década, salvo casos muito raros e pontuais, nunca apresentaram buracos orçamentais, tendo até, por vezes, saldos de funcionamento». Contudo, nos últimos anos esses saldos têm «progressivamente desaparecido, fruto do desinvestimento do Estado no ensino superior público».

No caso da Guarda, garante que «há dinheiro para salários», sendo que, «apesar difícil», a situação de 2008 foi gerida com «bastante rigor e cuidado». Em relação a 2009, afigura-se «difícil para todas as instituições de ensino superior e para o IPG em particular», uma vez que o Orçamento de Estado «cobre apenas cerca de 90 por cento das despesas permanentes com pessoal docente, não docente e outras inerentes à instituição». Pelo que o IPG vai ter que arranjar receitas próprias para «cobrir os restantes 10 por cento», sendo «inevitável» o aumento das propinas no próximo ano lectivo. Marco Loureiro, presidente da Associação Académica da Guarda, também criticou os cortes orçamentais que têm acontecido «todos os anos», salientando que o ensino «não é um negócio, mas um direito». O dirigente sublinhou ainda que o IPG tem demonstrado «a quem não acredita na qualidade de ensino no interior do país que está completamente enganado», prometendo que os estudantes não vão baixar os braços perante «aqueles que querem concentrar e capitalizar o ensino».

PLIE «tarda em responder às expectativas dos cidadãos»

Durante a sua Oração de Sapiência, subordinada ao tema “Combate à pobreza e desenvolvimento regional”, o Bispo da Guarda lamentou o atraso no arranque efectivo da Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial: «Temos na nossa cidade uma PLIE que tarda em responder às exigências e expectativas dos cidadãos, sobretudo pelo volume de investimento ali efectuado», constatou D. Manuel Felício. Porém, o prelado considerou que para «conseguirmos um desenvolvimento sustentado não podemos continuar à espera só do poder central para activar a nossa PLIE, nem também só dos poderes administrativos constituídos, como são os autárquicos». Por isso, defendeu ser preciso «mais concurso da sociedade civil e um maior aproveitamento do nosso capital social», sendo «muito desejável a concertação de esforços entre cidadãos, associações empresariais e outras voltadas para a promoção do desenvolvimento local». O Bispo sublinhou também que o desenvolvimento regional é um factor determinante no combate à pobreza, ao mesmo tempo que se deve «privilegiar o relacionamento» entre as empresas e as instituições de ensino superior.

Ricardo Cordeiro

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