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A crueldade prussiana

Editorial

1. É incontornável. O terceiro resgate da Grécia não passa ao lado de ninguém por toda a Europa e, precisamente por isso, mesmo num jornal regional não podemos deixar de olhar para o acordo do passado fim-de-semana.

De um lado estiveram diversos países, aparentemente sem receio de uma saída da Grécia do euro, cujas consequências ninguém quis antecipar, mas que porventura seriam bem mais devastadoras para a moeda única do que aquilo que os defensores do Grexit puderam prever; do outro um governo encurralado, assustado com a possibilidade dos bancos continuarem fechados e o país ficar irremediavelmente sem dinheiro. No fim, um primeiro-ministro Tsipras dobrado pela força, à cinturada e a pontapé: regressou a casa com uma mão cheia de nada e a outra com o compromisso de mais austeridade e a necessidade de apresentar garantias reais caso não possa pagar o enorme calote que a Grécia tem na Europa. Na prática foi tudo politica. Da pior. Com os fortes a mostrarem a sua força e os fracos a sair curvados, esmagados pelo cansaço e pela responsabilidade. Tsipras percebeu que tinha atingido o limite e dobrou. Aceitou tudo, até o que seria inimaginável nos dias anteriores. Fez o seu haraquiri – nem “tossiu nem mugiu”. Antes de se demitir, Varoufakis bem disse que se tivesse que aceitar mais austeridade cortava um braço, Tsipras nunca foi tão metafórico ou radical como o seu ex-ministro das finanças, mas serviu a sua própria cabeça numa bandeja. Na Grécia a austeridade vai aumentar, a rua vai escaldar e o Syriza acabou. Serviu de pouco o périplo de seis meses de contestação à austeridade. No fim ganhou a Alemanha. Como sempre. E as pessoas? Muitas palavras vãs, mas ninguém quer saber das pessoas, cada um trata da sua vidinha, todos a meter ao bolso e o povo que se lixe. Lá como cá.

2. Enquanto em outros meios se apostava numa referência pouco crível do mais indescritível semanário português (O Sol) sobre o nome da Edite Estrela como putativa cabeça de cartaz do PS na Guarda, n’O INTERIOR, embora envolvidos pela fumaça, procurámos fugir a um nome que alguém quis colocar na mesa, sem sentido. Obviamente que Edite Estrela não poderia ser, nem quereria ser, candidata pela Guarda à Assembleia da República. Era mau para nós e era mau para ela. Procurámos outros nomes, dos poucos credíveis no PS da Guarda (sim, porque os partidos esvaziaram-se de quadros e personalidades), e sem dificuldade antecipámos que o cabeça-de-lista poderia ser Santinho Pacheco (ou Rita Mendes, que por ser autarca não podia integrar qualquer lista) A confirmação chegou sexta-feira (em primeira mão e em exclusivo em www.ointerior.pt). A escolha tem razoabilidade, considerando o trajeto político do antigo governador civil da Guarda, mas, a exemplo do que ocorre em outros palcos socialistas, peca por não suscitar entusiasmo e não incluir renovação. Nem sequer se trata de uma aposta na continuidade. É um regresso ao passado – e pobre partido que tem de recorrer aos seus dinossauros para ganhar votos ou cujos senadores não sabem sair de cena. Mas o pior vem depois. O PS quer recuperar um deputado no distrito e impõe um apelido histórico: Maria Almeida Santos, filha do antigo presidente da Assembleia da República e antigo presidente da Assembleia Municipal da Guarda , uma desconhecida na cidade onde nunca fez vida e onde não se lhe reconhece qualquer compromisso com a região. Uma paraquedista com “pedigree” em Cabeça (Seia). O terceiro nome da lista deverá ser, ainda que com improvável eleição, a irmã de José Albano. E o quarto deverá ser João Pedro Borges, filho de Maria do Carmo Borges (que faz muito bem em exigir o terceiro lugar na lista. Exige-se um mínimo de renovação). Isto não é um partido, é uma família. Antes foi o pai, agora vai a filho ou a mãe ou a irmã, depois vai o avô ou a mulher ou a namorada, e há de ir o gato ou o canário ou o periquito. Um partido aberto à sociedade, portanto.

Luis Baptista-Martins

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