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«A crise quando chega é para todos»

Empresários da região mostram-se preocupados com o futuro e aguardam por melhores dias para o negócio

A situação económica e financeira do país não é a melhor, a crise há muito instalada parece estar cada vez mais longe do fim e Portugal até já se viu obrigado a recorrer a ajuda externa. O distrito da Guarda não escapa à austeridade e a generalidade dos comerciantes e empresários da região aguarda pela chegada de melhores dias para os seus negócios.

João Carlos Rodrigues é proprietário de duas empresas sedeadas em Trancoso, uma de transportes internacionais e outra de materiais de construção. Sobre o primeiro sector, o empresário indica que «a questão da quebra do negócio já se coloca há muito tempo», lamentando que o preço do gasóleo esteja «bastante alto». Por outro lado, sublinha que «não há uma união entre as empresas de transportes para fazer refletir essa subida nos preços dos fretes e há sempre quem faça mais barato», o que acaba por prejudicar os outros. O empresário constata que Portugal «está com problemas de importação e exportação», sustentando que a crise nos transportes «não é novidade nenhuma» e não prevê «melhorias a breve prazo». Nesse sentido, perspetiva o aproximar de «anos de grandes dificuldades» que poderão assumir contornos mais conturbados se o preço dos combustíveis continuar a subir: «Se o preço do gasóleo descer é uma coisa, agora se se mantiver ou subir ainda mais será ainda mais complicado, até porque não se consegue fazer refletir nos fretes os preços dos combustíveis», refere. No que toca à empresa de materiais de construção, João Carlos Rodrigues sublinha que a «atividade tem vindo a decair desde o ano 2000» e vive-se uma época em que «há dificuldade das pessoas em acederem ao crédito» e, por outro lado, há «receio» de quem tem dinheiro em investir.

«Admito ter que dispensar algum pessoal porque se não se ganha dinheiro temos que reduzir a frota»

De resto, «acabou por se fazer muita habitação nova, até mais do que o necessário» e, atualmente, «não se constrói e como tal não se vendem materiais de construção». Sobre a evolução do sector, «não estou a ver que haja uma grande evolução de habitação nova. Prevejo sim um pequeno aumento na reabilitação de casas antigas», num novo «paradigma» que também está «dependente» da existência de «outros incentivos tanto a nível autárquico, como estatal». Sobre o futuro deste sector, defende que «os empresários vão ter de diminuir a oferta e baixar as margens de lucro também» para se poderem manter competitivas no mercado. Ao todo, as duas empresas empregam cerca de 15 funcionários e se na de materiais de construção parece não haver problemas de excesso de trabalhadores, o mesmo cenário poderá estar em causa na de transportes: «Aí admito ter que dispensar algum pessoal porque se não se ganha dinheiro temos que reduzir a frota».

«Antigamente, as pessoas ainda iam fazendo agricultura, mas agora os terrenos ficam ao abandono»

No concelho vizinho da Mêda, o negócio também «já foi muito melhor», garante Paulo Andrade, filho do proprietário da empresa José Maria Domingos Andrade, firma vocacionada para a venda de material agrícola e de construção. «Na nossa empresa e no nosso meio tem, se calhar, um reflexo mais gravoso», uma vez que «há cada vez menos habitantes e o povo está cada vez mais envelhecido», realçou. De resto, «antigamente, as pessoas ainda iam fazendo agricultura, mas agora os terrenos ficam ao abandono», sendo «um pouco o reflexo do país». A subida dos preços dos combustíveis e a previsível introdução de portagens na A23 e A25 são outras duas «contrariedades» para o negócio, até porque «os fornecedores são quase todos de fora do distrito e esses custos suplementares vão traduzir-se no aumento dos preços das mercadorias». Quanto ao futuro, o comerciante «gostava de ser otimista mas vejo-o um bocadinho negro com grandes dificuldades», até porque «o nosso distrito está a ficar cada vez mais envelhecido». «Não há emprego e as pessoas vão-se embora para outros locais. Resta-nos ir andando e tentar suportar as despesas», frisou Paulo Andrade.

«A crise inibe as pessoas de pagarem um táxi»

Noutro ramo de atividade, Olindo Silva, de Vila Franca das Naves, é taxista há mais de 40 anos e assegura que também «já teve muito mais clientes» do que os que tem atualmente. «O que ainda nos vai valendo é a prestação de serviços da Unidade Local de Saúde da Guarda», realça, sublinhando que «a crise inibe as pessoas de pagarem um táxi» e que vê um «futuro muito negro» no horizonte, em virtude das «aldeias estarem a ficar cada vez mais desertas e as pessoas não terem dinheiro». Este taxista já se debateu com várias crises ao longo da sua vida, mas assegura que a que se vive atualmente «é das mais difíceis de sempre» e que «a crise quando chega é para todos». Espera que «as tarifas não aumentem porque se já temos poucos clientes depois ainda será pior, mas, por outro lado, o gasóleo ao preço que está é insustentável» e «isto está mesmo muito complicado».

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