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«A Covilhã é um bom meio para estudar e investigar»

Cara a Cara – Entrevista

P – O que significa a distinção da Associação Portuguesa de Inteligência Artificial (APIA), recentemente, atribuída?

R – Antes de tudo, representa o reconhecimento do trabalho, esforço e empenho que coloquei durante um ano no meu projecto de final de curso. Para além disso, trata-se de um prémio que vem dar uma motivação extra aos projectos que estou a desenvolver actualmente. Este ano comecei o doutoramento no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, e estou a fazer investigação no Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (INESC). Também recentemente consegui uma bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), que veio dar uma grande ajuda.

P – Em que consiste o projecto que desenvolveu?

R – Em linhas muito gerais, o “BiGGEsTS – Biclustering Gene Expression Time Series” consiste num programa informático para pesquisa de padrões em dados obtidos em experiências biológicas com chips de ADN. Cada experiência efectua um conjunto de medições da concentração de ARN mensageiro nas células ao longo do tempo, cujos valores nos permitem saber se um dado gene está ou não a “funcionar” a dado momento. Conhecidas as condições experimentais a que as células em estudo estão sujeitas, o que se pretende é tentar inferir quais os genes que estão activos (ou reprimidos) em simultâneo, ou ainda quais os genes que apresentam uma evolução de funcionamento semelhante em determinados intervalos de tempo. Este processo permite extrair grupos de genes que estão a participar em conjunto em determinados processos biológicos e pode ser particularmente relevante para o entendimento do funcionamento das redes genéticas e dos sistemas biológicos em geral. O “software” que desenvolvemos, o BiGGEsTS, inclui algumas técnicas computacionais para extracção dos grupos de genes e diversas opções de visualização e análise de dados e resultados obtidos.

P – Que importância poderá ter este “software” para a comunidade?

R – Esta é uma área ainda em investigação. No entanto, quando se provar que as relações que se conseguem inferir através destas ferramentas são válidas, o impacto produzido junto da comunidade e do meio científico será enorme. Isto, porque através da interpretação dos dados gerados pela informática, será possível aos biólogos identificar que o mau funcionamento de um determinado grupo de genes está a provocar, por exemplo, uma determinada doença. Mas este é processo muito complexo e que envolve muitos passos. O meu trabalho não representa nem um centésimo daquilo que está e poderá vir a ser investigado e produzido.

P – Trata-se então de um projecto que terá continuidade em termos de investigação?

R- Sim. A minha tese de doutoramento é, justamente, uma continuação deste trabalho.

P – Como surgiu o seu interesse por esta área?

R – Quando comecei o projecto de final de curso, e numa fase inicial, devo dizer que a minha decisão não se centrou propriamente numa área de investigação. Isto, porque procurei escolher, em primeiro lugar, aquela que, a meu ver, poderia ser a melhor orientadora para o meu trabalho. No contexto do Departamento de Engenharia Informática da UBI, a Sara Madeira pareceu-me a escolha mais acertada. Entretanto, tive contacto com a área em que ela estava a trabalhar. Ela propôs-me este tema e fiquei entusiasmada, até porque me agrada bastante investir em coisas novas e diferentes. Por outro lado, este conceito de aplicação da informática à biologia é muito interessante, já que são duas áreas de que gosto bastante.

P – Considera que a UBI tem condições para estar na “linha da frente” em matéria de investigação?

R – Acredito que a UBI tem muito potencial. A Covilhã é, aliás, um bom meio para estudar e investigar por se tratar de um local pequeno, onde é possível ter uma qualidade de vida muito superior à dos grandes centros, como Lisboa. Na Covilhã tem-se mais tempo e tranquilidade para trabalhar. Portanto, penso que a UBI tem todas as condições. Contudo, muitas vezes falta motivação às pessoas. Noto também que existe alguma falta de objectivos da parte da maioria dos alunos.

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