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A cópia e o original

Caso tenham algum contacto com o país, os militantes do PSD irão livrar-se de Luís Filipe Menezes. Porque o ridículo mata e o partido está moribundo há demasiado tempo. Mas não é de excluir que, dominando o aparelho, as pequenas ambições internas contem mais e mantenham Menezes ao leme do barco, rumo ao desastre. Que não se ria o PS. Daqui a uns anos viverá a mesma experiência. Com a agenda social do centro-esquerda reduzida ao mínimo e um centro-direita que sabe que a agenda ultraliberal é impraticável neste país, resta pouco que distinga os dois maiores partidos. Na oposição, sem lugares para distribuir nem programa alternativo para apresentar, sobra apenas a competição entre personalidades. Quando o poder está longe, quem está na oposição fica com o refugo. Quando cheira a poder regressam os pesos pesados.

Se se confirmar a candidatura de Manuela Ferreira Leite, Sócrates deve preocupar-se. Tem contra si o original de que ele é apenas uma cópia forçada. Uma mulher que aparece aos olhos dos eleitores como sendo rigorosa, determinada e autoritária. Tudo o que Sócrates quis ser, mas sem uma vida de trapalhadas no currículo. Ferreira Leite é o arquétipo da direita nacional. A mesma direita que, à falta de quem no seu campo representasse esse papel, adoptou Sócrates. Se o modelo concorrer contra a falsificação, resta a Sócrates voltar à casa-mãe. Será tarde de mais. Ficará entalado entre uma esquerda desiludida com o seu Governo e uma direita entusiasmada com a nova liderança. E uma coisa pode esquecer: a maioria absoluta.

Velhos amigos

Jerónimo de Sousa foi a Angola. Chegado a Lisboa, transmitiu ao ‘Avante!’ algumas das suas impressões. Primeira: “sentimos haver um esforço claro do MPLA no combate à corrupção. Neste aspecto, pode dizer-se que, havendo um problema, não se sente a corrupção como um fenómeno instalado e em desenvolvimento, mas antes como uma situação que está a ser encarada e combatida pelo MPLA”. Ou seja, o MPLA e José Eduardo dos Santos, eles próprios o centro da pornográfica corrupção angolana, querem curar-se. Segunda: “existe a vontade de não transformar a sociedade angolana numa sociedade capitalista no sentido clássico”. Não sei qual é o sentido menos clássico, mas pela amostra é ainda pior do que o tradicional.

Determinado a não fazer nenhuma reavaliação do passado, o PCP move-se, em matéria internacional, guiado pelos seus próprios reflexos condicionados e pelas memórias de um mundo desaparecido. Procura amigos em qualquer buraco, achando que se fizer muito esforço para não ver a realidade ela desaparece. Isso explica a simpatia para com o regime chinês, que, enquanto impõe ao país um capitalismo selvagem sem liberdade se aproxima da Internacional Socialista, ou esta solidariedade com a alta burguesia cleptomaníaca de Angola, que mantém fortes relações com os EUA.

Podemos visitar velhos amigos para os rever. Até podemos ter o pudor de fingir não notar como estão mudados. Mas nem eles nos exigem que façamos desta ilusão um programa político.

Por: Daniel Oliveira

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