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A construção da pseudo realidade

Bilhete Postal

Viemos dar a uma realidade que se constrói por força de imagens que reportam ao mesmo tempo – o agora – quer o passado quer o presente. Completámos um ciclo de existência em que a realidade em si mesma só é compreendida pela projeção nos media. Um acontecimento ínfimo pode ter uma projeção gloriosa se as televisões o potenciarem e converte-se num espaço construído, numa torre de Babel virtual, num monstro que é fumo ou nuvem. Por outro lado uma manifestação de milhares de pessoas, uma votação de 700 milhões de eleitores (como em abril na Índia) pode simplesmente não existir e não ser comentada. O hoje é uma imagem do real e converte-se nele mesmo. Depois temos esse acontecimento estruturante que compacta ontem e agora com imagens no Youtube, ou no Facebook. Ao colocar o avô digitalizado trazemos a sua presença ao hoje e o mesmo fazemos observando os “documentos históricos”. Somos uma apoteose do agora e construímos o futuro neste espaço ideológico novo que esmaga os tempos trazendo-os à facilidade de uma tecla, de uma pesquisa sem esforço. Este é o espaço teórico de alguns filósofos contemporâneos e este é o adubo para as próximas teses que aperfeiçoarão o discurso de uma esquerda melhor, uma esquerda menos compaginada com os seus valores do passado e mais próxima dos cidadãos que se moldam e vivem no compacto histórico do hoje.

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