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A conspiração da lâmpada

E se, de repente, sem aviso prévio, o seu carro, eletrodoméstico, telemóvel ou “pacemaker” avariarem, isso é… obsolescência! Já reparou que o seu telemóvel dura pouco mais de dois anos sem dar problemas e, mesmo que dure mais, fá-lo-ão pensar que está fora de moda. O mesmo acontece com o seu automóvel ou eletrodoméstico, com novos modelos ou atualizações a saírem para o mercado cada vez mais rapidamente.

Uma rápida pesquisa no Google e encontro na Wikipédia três tipos de obsolescência: Obsolescência Técnica ou Funcional, que ocorre quando um novo produto ou tecnologia mais funcional toma o lugar do antigo; Obsolescência Programada, quando os fabricantes introduzem deliberadamente a obsolescência na sua estratégia de produto, com o objetivo de gerar um volume de vendas duradouro reduzindo o tempo entre compras sucessivas; e Obsolescência Percebida, que é uma forma de reduzir a vida útil dos produtos que ainda são perfeitamente funcionais e úteis (moda e telemóveis, por exemplo). Começa a fazer sentido… E eis que, umas pesquisas mais à frente, dou, no “Youtube”, com o documentário “The Light Bulb Conspiracy” (“A conspiração da lâmpada”), de Cosima Dannoritzer (2011). Em http://eacritica.wordpress.com, o autor do blogue refere que neste documentário é explicada a prática da obsolescência programada como motor da sociedade de consumo, verificando-se que desde os anos de 1920 os fabricantes começaram a diminuir a vida útil dos produtos para aumentar as vendas.

É contada a história de uma lâmpada incandescente que funciona ininterruptamente desde 1901 (há 111 anos). No entanto, o documentário revela que em 1924 se formou o primeiro cartel do mundo, o Phoebus, visando o controlo do fabrico de lâmpadas, com o objetivo de estas se tornarem menos duráveis (uma limitação técnica intencional, para uma vida útil de apenas 1.000 horas), para que as pessoas não deixassem de as consumir periodicamente.

O documentário dá alguns exemplos de obsolescência programada utilizada para diminuir a vida útil de impressoras da marca Epson, que deixam de imprimir a partir de um determinado número de páginas. Outro exemplo é a Dupont, que descobriu o nylon e, no entanto, teve de o tornar menos resistente e duradouro para que continuasse a haver consumo. Além do caso das primeiras linhas do iPod, cuja bateria tinha a programação para durar aproximadamente 18 meses, incentivando a compra de outro aparelho por um novo.

A obsolescência programada surge sincronizada com a produção em massa e a sociedade de consumo. É nos Estados Unidos, nos anos de 1950, que a obsolescência programada passa a obsolescência percebida quando pessoas, incentivadas pelo crescente design industrial e marketing, começam a sentir necessidade de ter algo mais moderno, mais novo e melhor que um bem de consumo que ainda não se encontra danificado. O desejo de consumo impulsiona a comprar algo apenas para satisfação e não por necessidade. Design e marketing incentivam esse consumo, tornando-se essa a base da sociedade de consumo atual.

Essa lógica levou a um crescimento da economia, no entanto, sem um objetivo, apenas crescimento por crescimento.

Essa obsolescência programada provoca, além do aumento da exploração dos recursos naturais e energéticos, um fluxo contínuo e aumentado da produção de lixo tecnológico.

Por tudo isto, se tem um VW carocha lá por casa, um ferrugento frigorífico Philco, uma velha televisão Grundig ou um pesado telemóvel Motorola, entre outros objetos, que apesar da vetusta idade se mantêm funcionais, guarde-os zelosamente porque podem muito bem vir a servir-lhe de retaguarda quando os seus jovens congéneres avariarem sem qualquer aviso por se terem tornado programadamente obsoletos.

Por: José Carlos Lopes

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