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A Catástrofe Demográfica

Dizem-me que em 2013 houve apenas 14 nascimentos no concelho de Pinhel. Não sei se os números são verdadeiros, mas se o são representam um brutal agravamento perante os dados estatísticos dos recenseamentos de 2011. Havia então uma taxa bruta de natalidade de quatro nascimentos por mil habitantes, já de si muito má, sobretudo se comparada com a taxa de mortalidade de 14 por mil do mesmo ano. A ser verdadeiro aquele número, de apenas 14 nascimentos, a taxa bruta de natalidade seria hoje, apenas três anos depois, inferior a dois por mil. Hoje, em Trancoso, antes do início de um julgamento, lembrei-me de averiguar na Conservatória do Registo Civil os números do concelho para 2013. Um funcionário explicou-me que era muito difícil dar-me os números, já que muitos registos são feitos logo no hospital em que a mãe dá à luz. No entanto, adiantou-me, nessa conservatória teriam sido gritos em 2013 quatro registos.

Por consulta à Pordata (um portal da Fundação Francisco Manuel dos Santos que disponibiliza gratuitamente dados estatísticos da mais variada ordem), fiquei a saber que, em geral, no distrito da Guarda as taxas de natalidade andam quanto muito pelos quatro nascimentos por mil habitantes e que por cada criança que nasce morrem pelo menos quatro pessoas. Dirão que falamos de números com pouca expressão: afinal, Pinhel tem apenas 9600 habitantes e, se estamos a falar e poucos nascimentos, também não serão assim tantas mortes. O problema é que a taxa de mortalidade tem tendência a agravar-se. Nos muitos lares de terceira idade que há no distrito acumulam-se os nonagenários. A idade média da população vai subindo, graças aos avanços da medicina, aos cuidados primários de saúde, às melhorias nos hábitos de higiene e de alimentação. Isto é tudo verdade e é tudo admirável e bom, mas a única coisa de que temos a certeza é da inexorabilidade da morte e que está é tanto mais provável quanto mais velhos formos. E há também a inexorabilidade dos impostos, claro.

Tentou-se inverter esta tendência do Interior para morrer de velhice, oferecendo vantagens fiscais às empresas que se quisessem fixar por cá. Houve, claro, os bons velhos truques à portuguesa: criava-se uma empresa, sediada no Sabugal, ou em Trancoso, e criavam-se depois os postos de trabalho em Lisboa ou no Porto. Seja como for, e ressalvados ou não os clássicos défices de fiscalização, acabámos por concluir, mesmo que empiricamente, que tudo o que foi feito deu em muito pouco. Para além do mais, é difícil abrir uma nova empresa na Mêda porque irá ser difícil encontrar aí mão-de-obra disponível, sobretudo jovem e qualificada.

Andamos há anos a falar de défice, de dívida, da Troika. Está mais que chegada a altura de falar da catástrofe demográfica em curso e procurar resolvê-la, se quisermos que daqui a umas poucas de décadas haja quem pague as dívidas e reformas dos sobreviventes.

Por: António Ferreira

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