Há quase dois anos, a Ordem dos Médicos denunciou a falta de anestesiologistas na região Centro, o profundo desequilibro do rácio de anestesistas entre as várias regiões do país e o seu impacto nos cuidados de saúde. Hoje, tudo piorou. É cada vez mais difícil respeitar a programação cirúrgica semanal devido a múltiplos cancelamentos de tempos operatórios. O Ministério da Saúde teima em não reconhecer este problema, o que, obviamente, prejudica a sua resolução premente.
A carência de profissionais leva ao cancelamento ou adiamento de tempos operatórios, uma situação preocupante que tem prejudicado gravemente os doentes em lista de espera para cirurgia. Os anestesiologistas têm uma atividade que exige uma alta diferenciação médica e interage em estreita colaboração com todas as especialidades cirúrgicas e médicas. A área assistencial da anestesiologia não se limita exclusivamente à atividade do bloco operatório. Hoje, o anestesiologista é essencial nos exames complementares de diagnóstico que obrigam a técnicas invasivas, participa muito ativamente na Medicina de Emergência e Trauma e na Medicina Intensiva. Por outro lado, tem um papel fundamental na Medicina da Dor (no apoio aos doentes com dor crónica, aos doentes paliativos e na analgesia no parto).
A formação médica em Anestesiologia tem sido cada vez mais exigente e organizada de forma a permitir um contacto próximo e diversificado de todas as áreas abordadas pela especialidade. Sublinhe-se: a Anestesiologia é uma das muitas áreas da Medicina essenciais para uma adequada prestação de cuidados de saúde.
O mais recente relatório do Colégio de Anestesiologia da Ordem dos Médicos sobre o Censos de Anestesiologia 2014 traça uma descrição exaustiva: num total de 1.274 anestesistas no Serviço Nacional de Saúde, apenas 222 exercem na região Centro, sendo esta a zona mais deficitária. Existe na zona Centro 9,7 anestesistas por 100 mil habitantes. A zona Sul e a zona Norte do país têm uma densidade, respetivamente, de 12 e 13,5 por 100 mil habitantes. A densidade de anestesistas da região Centro é a mesma que encontramos, por exemplo, nas ilhas dos Açores.
O aumento do número de médicos desta especialidade é prioritária nos hospitais da região Centro. São essenciais concursos públicos para a contratação direta de profissionais que possam estar plenamente integrados nos quadros dos hospitais e diretamente dependentes da instituição onde trabalham. O recurso a empresas de contratação de profissionais de saúde não tem beneficiado nem o trabalho de equipa, nem a estabilidade dos serviços e do trabalho médico, sendo, por isso, uma alternativa a evitar. Não basta ao Ministério lamentar-se ou denunciar a situação, há que resolvê-la com seriedade. Seriam necessários pelo menos 90 anestesiologistas para dar resposta às graves carências sentidas na região Centro!
Não basta ao Ministério lamentar-se ou denunciar a situação. Neste campo, a tutela parece estar num estado anestésico.
Por: Carlos Fontes
* Presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos