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A caça outra vez

Ladrar à Caravana

Embora haja mais caçadores que coelhos ou perdizes, os gajos não desistem.

Tive uma ideia que podia, com as devidas ponderações jurídicas, alegrar toda a gente: Podia-se abrir, para animar as festividades, uma época de caça aos caçadores. Com cotas, zonas de interdição, coutadas turísticas, zonas livres, zonas associativas, essas coisas todas. Enfim, seria um processo, em termos ecológicos, de estabelecer um controle sustentável da espécie, que está a proliferar de um modo preocupante. Alegria para os ecologistas.

As licenças seriam caríssimas, como a tarifa que se paga para poder matar um veado ou javali. Ou até um bocadinho mais baratas, que há muitos caçadores e portanto a espécie não corria risco de extinção. Mesmo assim, arrecadavam-se receitas extraordinárias. Alegria para a Ministra das Finanças.

E ficavam bonitos, empalhados ou com a cabeça emoldurada numa sala de troféus: “Aquele ali em cima, apanhei-o a cagar atrás dumas giestas, ahahaha! Nem percebeu que estava morto! O outro, mais velhote, deu luta o sacana! Tive de lhe enfiar quatro cartuchos, assim à queima-roupa, com cuidado para não lhe estragar a cara, está claro, e mesmo assim o gajo demorou uma porradaria de tempo a morrer. Já não há muitos assim, isto agora anda fraco…” Portanto, trabalho para os taxidermistas, empalhadores e cangalheiros, criação de riqueza e emprego, mais IRC, mais alegria para a Ministra.

Os próprios caçadores não teriam argumentos para reclamar: se a caça é um desporto, então seria muito mais desportivo, haveria muito mais fair play numa situação em que predador e presa estivessem em pé de igualdade. Ou não?

Enfim, penso que seria uma boa medida. Não sei o que dirão os pareceres jurídicos, se há inconstitucionalidades na ideia, mas acho que seria algo a contento de todos.

Estou convencido que seria muito apreciado o espectáculo de um tipo a agonizar no chão com um balázio enfiado no bucho enquanto o resto da rapaziada bebia umas cervejinhas e se juntava para tirar a fotografia. Para mais tarde recordar.

O que é preciso é arranjar ideias assim engraçadas para tirar a malta desta apatia.

Alegria, é o que precisamos.

Por: Jorge Bacelar

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