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«A austeridade tem sido positiva para ultrapassar momentos menos bons»

Cara a Cara – José Prata

P – É gestor de uma empresa do ramo automóvel que fez 47 anos, como está o setor na Beira Interior?

R – Estou neste negócio há muitos anos, é uma empresa familiar. Temos assistido a uma mudança constante de colegas, de atitudes… O negócio em si tem tido muitas alterações, basta dizer que quase todas as casas do nosso ramo não têm resistido. Tem havido substituição das empresas que representam as marcas constantemente. É um facto que estamos cá há 47 anos. Acho que a austeridade que temos internamente tem sido positiva para ultrapassar momentos menos bons ou as crises. Temos a sorte com as duas marcas que temos representadas, tanto dos tratores como dos automóveis, pois estão na vanguarda do setor.

P – Houve uma recuperação no setor automóvel em 2015?

R – Sim, houve, nomeadamente na BMW. Temos ido buscar nichos de mercado a que a marca não olhava noutros tempos. Já concorremos com marcas mais generalistas, já não é a marca de elite. No caso dos tratores, e também porque estamos a falar de história da empresa, mudámos de marca há 16 anos e em boa hora o fizemos. Os concessionários que têm a marca que representávamos estão hoje com uma dificuldade tremenda porque não têm produto para poder fazer face às necessidades.

P – A Matos & Prata é, essencialmente, uma empresa da área dos veículos e das máquinas agrícolas, no distrito da Guarda. Alargou a sua atividade também ao distrito de Castelo Branco, como está a correr esse projeto?

R – Esse projeto foi essencial para consolidarmos o negócio automóvel porque na Guarda, como noutras regiões do interior, sente-se mais a falta de pessoas. Estávamos com dificuldade em atingir determinado volume de vendas e, se não o atingíssemos, não era rentável para o negócio. Optámos por ir para Castelo Branco, foi um investimento bastante avultado, mas o que é certo é que foi essencial.

P – Têm stands em Castelo Branco e também na Covilhã?

R – Sim, é impossível uma concessão automóvel sobreviver só na Guarda. Temos cada vez menos gente, os últimos censos revelaram que temos menos uns milhares de pessoas. Falta-nos a indústria, por pequena e pobre que seja, mas que mantenha as pessoas vivas e com perspetiva de futuro para poderem investir. O que nós reparamos é que as pessoas vão para Lisboa, vão para o litoral, desaparecem daqui. Basta dizer que uma coisa que os nossos deputados fazem depois de ganharem as eleições é arranjarem uma casa em Lisboa para viverem e à Guarda pouco voltam, salvo raras exceções. Eu nasci cá, o meu filho nasceu cá, a minha vida foi toda cá e gostaria que a Guarda aproveitasse este eixo que temos, o nó rodoviário da A23 com a A25. Já o estamos a aproveitar de alguma forma, com a renovação da PLIE, que tem sido importante.

P – Em termos de economia, está mais otimista neste momento com o que se passa na região?

R – Sim, já vejo algumas empresas a quererem investir e a construírem armazéns e pavilhões na Guarda, por pouco que seja, é cá que se querem sediar. Temos a sorte de ter uma empresa como a Coficab, felizmente penso que está consolidada na região. Mas precisávamos de ter mais algumas empresas, se não for na Guarda que seja na região.

P – Acredita que vão surgir novas empresas de alguma dimensão e geradoras, não apenas de postos de trabalho mas também de riqueza?

R – A vontade que todos temos é que isso aconteça. Estou convicto que ainda vai demorar algum tempo mas, pelas condições estratégicas ou geográficas que temos, acho que ainda vão aparecer algumas empresas que possam fazer a diferença pela positiva.

P – Apostam no eixo Guarda, Covilhã, Fundão e Castelo Branco. É este o eixo a que nos temos de agarrar? Há quem defenda um eixo mais virado para o mar como Guarda, Viseu, Aveiro.

R – Optámos por este eixo porque entendemos que as diferenças culturais e sociais entre litoral e interior são muito maiores. Somos “mais” Covilhã, Fundão e Castelo Branco, pela quantidade de pessoas que ali residem. Estes três concelhos têm apenas menos 5 ou 6 mil pessoas que todo o distrito da Guarda, com 14 municípios. Temos de apostar onde há pessoas. Temos alguma dificuldade em estar no eixo do litoral, também pelas distâncias. Contudo, a nossa mentalidade não é a mesma do litoral e, por isso, optámos por investir neste eixo.

P – Para além do setor automóvel, a empresa tem as máquinas agrícolas. O problema da falta de pessoas será similar. Como se conseguem vender máquinas agrícolas numa região onde há cada vez menos agricultores?

R – Isso é um facto. Hoje têm-se vendido máquinas agrícolas baseadas nos projetos comunitários. Nestes últimos dois anos os projetos têm estado muito parados, cada vez que há uma mudança de governo há sempre dificuldades em que o Ministério da Agricultura aprove esses projetos. Hoje há uma nova vontade de se cultivar, há novos projetos, embora ainda não estejam no terreno. Este foi um ano bom de venda de tratores mas temos esperança que em 2016 haja um “boom” para o final do ano. O setor do vinho também está a mudar. Há terras como Pala (Pinhel), que antigamente era conhecida pela produção de carne e hoje tem, seguramente, mais de 150 tratores dedicados completamente à vinha. De resto, Pinhel é dos concelhos que mais tem evoluído em termos agrícolas. Já Figueira de Castelo Rodrigo, com áreas maiores, está muito agarrada à questão da vinha e do cereal. Hoje também já se cultiva bastante cereal, que estava abandonado. Por outro lado também temos Foz Côa, que teve um desenvolvimento brutal no setor agrícola, talvez seja a zona com maior desenvolvimento em termos de investimento.

P – Como vai estar a Matos & Prata nos próximos anos?

R – Temos a perspetiva de aguentar a empresa em termos de despesas fixas, de mantermos as nossas quotas de mercado nos automóveis e nos tratores, de fazer mais um ou outro investimento na área conforme as oportunidades que apareçam e queremos chegar aos 50 anos.

P – Neste momento onde têm stands?

R – Temos a nossa sede aqui na Guarda. Temos três filiais dedicadas à parte agrícola em Figueira de Castelo Rodrigo, Trancoso e Gouveia. Temos a filial de Castelo Branco dedicada apenas aos automóveis, e ainda, um ponto de venda na Covilhã.

P – Esta é uma empresa familiar onde a gestão é feita, em primeiro lugar, por um núcleo muito restrito de pessoas que são nomeadamente a família Prata?

P – A família Prata tem 66,6 por cento das ações, a administração, de quatro elementos, é partilhada com mais dois acionistas, que também trabalham cá. Os dois acionistas não são da família mas são filhos de sócios fundadores. É assim que queremos continuar. Não é uma empresa altamente rentável como às vezes se ouve, mas é equilibrada e vamos tentar manter esse equilíbrio.

Felizmente ainda tenho cá o meu pai, o fundador da empresa, que nos acompanha todos os dias. E sei que ele também tem muito prazer em continuar a acompanhar a empresa.

Perfil:

Administrador do Grupo Matos & Prata

Profissão: Gestor

Idade: 51 anos

Naturalidade: Guarda

Hobbies: Automóveis e desporto automóvel

José Prata

Sobre o autor

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