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«A Associação Mil e Cinquenta e Seis é da sociedade para a sociedade»

Cara a Cara – José António da Fonseca

P- O que é a Associação Mil e Cinquenta e Seis?

R- A Associação Mil e Cinquenta e Seis – devido à altitude da Guarda e ao auge que queremos atingir – é uma associação sem fins lucrativos que vai promover ações para a comunidade em geral nas áreas da ação social, promoção da formação e educação não formal, do empreendedorismo, da saúde, da igualdade, do desenvolvimento, do desporto, da cultura, na proteção do meio ambiente e defesa dos animais. É uma associação bastante abrangente.

P- Como surgiu a ideia de criar a associação?

R- Foi há cerca de quatro anos, numa conversa na esplanada de um café em S. Miguel. Estávamos num grupo de amigos e começámos a falar do importante que era participarmos mais na vida social da Guarda-Gare e fizemos isto porque olhamos à nossa volta e vemos a juventude completamente parada, não desfazendo em nada no NDS que está a desempenhar um trabalho excelente. Antes de avançar com este projeto, falámos com o presidente do NDS e explicámos que a ideia não é “chocar” com as atividades do NDS, pelo contrário, é complementá-las. De resto, manifestamos disponibilidade para ajudar no que for possível, da mesma maneira que se houver alguma atividade que eles não consigam desenvolver podem contar com o nosso apoio, dentro das nossas possibilidades, pois teremos todo o gosto em ajudar. Não somos uma associação juvenil mas estamos muito virados para os jovens. A nossa ideia é entretê-los aqui na Estação para não saírem daqui, principalmente da Guarda. Os ídolos deles, infelizmente, são pessoas que retratam coisas negativas e nós queremos inverter isso. É impossível fazê-lo neste momento na Guarda porque eles não se podem inscrever no futebol porque já passaram uma certa idade. Não têm atividades de carácter desportivo, como o judo. Por exemplo, nós conseguimos uma parceria com o clube de judo para implementar aqui, temos uma faixa etária mais nova que vai dos 8 aos 15 anos e depois dos 15 até onde uma pessoa se puder manter. Temos também um artista de arte urbana, que é um ídolo para eles e representa um estilo de vida diferente, e queremos revelar que é possível fazer coisas diferentes desde que haja vontade, temos é que lhes abrir portas, pelo menos deixá-los passar. É esse o nosso fim último, levá-los a bom rumo.

P- Esta é altura certa para criar uma associação, tendo em conta que nesta altura as pessoas estão desmobilizadas e têm outros problemas em que pensar?

R- Acho que sim, porque somos da sociedade para a sociedade e é nesta altura que se ouve falar em desertificação e temos ai os jovens sem rumo. Se até os pais não têm rumo os jovens então estão completamente perdidos. Qualquer coisa que vejam como uma saída fácil é a resposta para eles e sabemos que não é. O trabalho ajuda duas coisas muito importantes: saber ter paciência quando não se tem nada e ter muita calma quando se tem tudo e neste momento eles não têm nada. Não têm paciência e não têm ninguém que lhes ofereça uma oportunidade. Nós não somos a salvação mas queremos ser o caminho pelo menos de alguns. Não vamos conseguir chegar a todos, mas os projetos que temos na gaveta e alguns já prontos para arrancar vão ajudar a inverter essa situação. Caso contrário vamos assistir cada vez mais a uma desertificação da cidade que é nossa ainda e vamos acabar por perdê-la aos poucos, pois com o desaparecer dos jovens desaparece tudo. Mas também há pessoas a passar fome, a passar mal aqui ao pé de nós. Nós temos consciência disso, somos de cá, vivemos com eles, conhecemo-los mas eles não querem pedir ajuda.

P- Qual o grande objetivo desta coletividade?

R- O objetivo, em geral, será promover e melhorar a qualidade de vida da comunidade, mas sendo uma associação composta por jovens – uns membros fundadores e outros que não são fundadores mas que já demonstraram vontade em colaborar – claro que vamos enveredar muito pela juventude. É um projeto um bocado ambicioso, nós somos uma mini câmara, temos quase o alfabeto todo em objetivos. Desde o apoio a crianças e jovens, ao apoio à família, entre outros.

P- Quais os meios de apoio de que dispõe a associação?

R- Neste momento não temos meios externos, só estamos a contar com ajudas dos membros fundadores e de alguns sócios que vamos começar angariar. Já temos fichas feitas, mas não começamos ainda angariar sócios oficialmente. A nossa ideia é tentarmos ser o máximo autónomos, desligarmos da política completamente e não precisar de favores. Queremos, claro que sim, qualquer ajuda e doação mas sem compromissos políticos, somos de todos para todos, queremos ouvir toda gente e toda a gente é bem-vinda, não nos queremos comprometer com nada que seja a nível político.

P- Que tipo de atividades e projetos pretende desenvolver?

R- Para arrancar, temos já formação profissional no dia 30 com inglês. Temos protocolos estabelecidos com entidades formadoras. Vamos realizar um workshop de judo gratuito de forma a divulgar depois as aulas de judo que vão decorrer. Haverá também um torneio de xadrez para o dia 23 de novembro, um ciclo de encontros com personalidades da Guarda e vamos começar já no próximo dia 7 de dezembro com o escultor Pedro Figueiredo, que virá contar a sua história de vida. Haverá também workshops práticos e na área da saúde vamos começar com as massagens shiatsu com uma pessoa formada na área. Teremos também atividades de arte urbana, leitura e cinema.

P- Qual a maior dificuldade da associação?

R- Na área social temos também projetos, ainda na gaveta, que estão a ser desenvolvidos, mas como são mais sensíveis demoram um bocadinho mais porque o problema não é só desenvolvê-los, é como nós vamos chegar às pessoas. Ninguém quer vir falar dos seus problemas, principalmente numa sala com pessoas que têm os mesmos. Ninguém quer partilhar isso, a nossa complicação aqui é como vamos mostrar a essas pessoas que estamos cá e encontrar o canal certo para as trazer aqui, neste momento essa é a maior dificuldade. Eu acredito que não seja só nossa, mas sim de todas as associações porque não não conseguem chegar às pessoas e elas aceitarem essa ajuda.

P- Que áreas de atuação a associação vai abranger?

R- As áreas onde vamos atuar são saúde, cultura, desporto, formação, empreendedorismo, ação social entre outras. Prontas a começar será a formação, o judo, clube de xadrez, clube de astronomia, ciclo de encontros, ciclo de workshops práticos nomeadamente defesa pessoal, maquilhagem e gastronomia, aulas de zumba e o clube de ciclismo e BTT que está quase tudo alinhavado.

José António da Fonseca

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