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A arte de moldar o ferro numa terra de tradições

Casa Museu do Jarmelo acolhe exposição de animais em ferro de Rui Miragaia até 8 de Agosto

Começou por brincadeira, mas mais tarde tornou-se numa arte. O jovem Rui Miragaia, filho de ferreiro do Jarmelo, transformou os saberes aprendidos na forja com o seu pai e moldou o ferro em animais artísticos que todos conhecemos. Um trabalho que vai poder ser apreciado a partir de domingo e até 8 de Agosto na Casa Museu do Jarmelo. A exposição revela dezoito peças de ferro intimamente relacionadas com o Jarmelo, que sempre teve como tradição o ferro e os ferreiros, e está patente todos os domingos, das 15 às 19 horas.

O gosto pelo trabalho do ferro nasceu da profissão do pai, ferreiro desde sempre, por isso «aos cinco anos já ajudava o meu pai na oficina», recorda Rui Miragaia, de 26 anos. Mas não era com o objectivo de criar utensílios agrícolas ou outro género de ferramentas, «gostava de criar e inventar outros objectos», conta o jovem artista. Desde pequeno que aprendeu a fazer coisas em ferro e certa vez até fez uns matraquilhos, adianta Rui Miragaia, acrescentando que foi com o pai que aprendeu «todas as técnicas com a forja», onde se aquece e se molda o ferro. Depois foi fazendo as coisas «quase sem dar conta», sublinha o jovem. A ideia de criar animais em ferro é sua e da irmã: «Achámos que seria engraçado fazer umas peças identificativas para o casamento dela», confessa Rui Miragaia, que acabou por aceitar o desafio por já ter prontas algumas esculturas. No final, o escultor aprontou dezoito pequenos seres vivos, todos diferentes, mas com algo em comum já que estão relacionados com a infância. «São peças representativas de bichos com os quais brincámos, como a abelha, a joaninha, o grilo, enquanto outros fazem parte do nosso imaginário, pois só os vemos no Jardim Zoológico, caso do rinoceronte ou do crocodilo», explica. Mas ainda há para ver um leão, uma avestruz –um dos seus preferidos – um caranguejo ou uma tartaruga, entre outros. Um acervo tipo Arca de Noé que acabou por ser a sua prenda de casamento, ironiza o artista.

Esta é a primeira exposição de Rui Miragaia, que nunca tinha pensando em fazer «algo semelhante» por sentir que «é um sonho alto demais». Contudo, a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo, promotora da mostra, vai torná-lo realidade. Em relação ao futuro, o artista debate-se com um dilema: «Às vezes sinto que devia potenciar as minhas apetências, mas, por outro lado, duvido que o ferro possa ser um fundamento de vida», diz Rui Miragaia. No entanto, o jovem tem uma certeza, a de que não pode viver «sem o ferro», mas por agora é tudo uma questão de tempo e de inspiração. Já a sua vida profissional acaba por ser norteada por outro sonho, o de ser actor. Já frequentou um curso de teatro no Chapitô, em Lisboa, tem participado nalgumas peças de teatro e trabalhado em produção e decoração de cinema. Entretanto, já integrou o elenco de duas séries televisivas, como o “Processo dos Távoras” e a “Sociedade Anónima”, actualmente a passar no Canal a 2. «O meu objectivo é ser actor», salienta Rui Miragaia, acrescentando ter ido para Lisboa por causa desse sonho, mas que regressa frequentemente a casa devido a outro sonho, o das esculturas em ferro. «São duas artes que têm em comum a busca incessante por construir algo, mas o ferro, pela sua agressividade, forma coisas sólidas que perduram no tempo», confidencia.

Patrícia Correia

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