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A apresentação do candidato Valente

(…)Desloquei-me expectante ao Hotel Turismo da Guarda para assistir à sessão de apresentação da candidatura do Sr. Eng.º.

Mas se expectante ia, expectante vim, já que a única certeza que dali saiu foi a de que o sr. Eng.º Técnico Valente é mesmo o candidato oficial que o PS tem para a Câmara Municipal da Guarda.

E do que por lá vi, isento, aqui deixo o registo:

À porta de entrada, uma outrora viçosa rosa, oferecendo rosas, (bem bonitas por sinal) na vã tentativa de, qual Rainha Santa, conseguir o milagre da transformação das rosas em votos. Vã tentativa, pois os votos presentes já são votos seguros ou não fossem rosa-dependentes.

De rosa na mão entrei na sala e porque as cadeiras, à frente já estavam todas ocupadas pela terceira idade, subi para cima de uma cadeira, disposto a não perder pitada.

À minha volta as caras do costume. Para além das velhas guardas de todas as campanhas, não deixaram de dizer presente, os Ti Antónios de Vila Cortez, nem os Ti Manéis da Mizarela. Novidade só mesmo a rapaziada do clube desportivo do Porto da Carne – estranho nome! (…)

Na parede do fundo, sério, o cartaz com a cara do Sr. Eng.º. Pouco apelativo, o cartaz, até porque a iluminação do palco era a pior que já se viu.

E o palco, que pobreza franciscana! À esquerda sobre um estrado, uma mesa que deveria ser de honra, onde se sentariam, por certo, quando chamados, os dignitários do partido. Ao centro nada e à direita o púlpito (…). (…)

Em linguagem futebolística poder-se-ia dizer que havia uma boa casa. Mas em linguagem política o acertado era dizer que aquilo mais parecia uma missa. Fosse lá como fosse, havia bastante gente – 300 pessoas? E isso é que realmente interessava aos organizadores do evento (constou-me que à custa de dois autocarros arrebanhadores de voluntários trazidos pelos autarcas das freguesias, as quais, como se sabe, são mais de cinquenta!).

Idosos havia muitos, já o referimos. Pessoas de meia idade também, mas onde estavam os jovens? Apesar da apresentadora ter anunciado o Sr. Eng.º como um jovem, visivelmente não conseguira captar o interesse, tão só a curiosidade, da Juventude.

Tristes e sorumbáticos era como estavam quase todos os presentes, na sua grande maioria militantes e engajados – posso afirmá-lo porque os conheço quase a todos pelos nomes.

E por fim lá se deu início à festa.

Depois do Veiga, o director da campanha, ao que se diz, fazer sinal à apresentadora, esta chamou ao palco aqueles que iriam discursar. Primeiro deu a palavra ao moço da JS, que começou e acabou por dizer que, em resumo, a Juventude do PS acreditava no Eng.º Valente porque sim e além do mais o Sr. Eng.º era amigo do Sócrates. Discurso chocho. Pouco entusiasmo, poucas palmas.

Seguiu-se-lhe o presidente da concelhia, o Saraiva arquitecto. Tivesse ele arquitectado melhor a votação na concelhia e veríamos quem seria agora o candidato! E lá disse o Saraiva o que tinha que dizer, isto é, que se o PS tinha escolhido o Valente era porque o Valente era o melhor candidato que o PS tinha para a Guarda. (Entre dentes ruminava que se não fosse o Valente ser amigo do Sócrates! Além do mais, ele nunca perdera uma eleição! Mas cala-te boca, o que está entre dentes entre dentes fica, pois que jeito dá o tachito do Polis e a expectativa de outros mais). Discurso fraco e sem chama, apesar de premiado por umas pouquitas de palmas.

Veio depois o grande líder distrital, o Cabral. Em fraca forma. Falta de treino no hemiciclo ou falta de jeito natural? Ainda por cima, e para seu azar maior, o Cabral pôs-se a cuspir para o ar. Naturalmente que a porcaria lhe caiu em cima. Para criticar a única adversária que reconheceu com hipóteses de lhes poder ganhar, a Ana Manso, o Cabral falou do Hospital. Daquele que está por fazer, do novo ou remendado, estamos todos fartos e se o PSD tem culpa por nada ter feito nos últimos três anos, o PS não a tem menos, pois esteve lá seis e o resultado é o que se sabe.

Além de que perdeu uma boa oportunidade de ficar calado, o Cabral. È que foi bem visível o brilhozinho de inveja no olho em relação ao Valente. (Ó que se o meu padrinho não fosse, de momento, o errado, e o do Valente o certo!!!). Discurso nulo. Não teve direito a palmas (…), mas também não foi vaiado, que aquele não era o local próprio para tamanho despautério.

E em crescendo, ou talvez não, a hora de discursar o dirigente nacional. Tinham-nos anunciado o Jorge Coelho – na impossibilidade do amigo, devido ao alto cargo que ocupa, estar presente – mas como “para quem é, bacalhau basta” serviram-nos o que calhou. Desta vez foi o Miranda Calha. Lá calha! Todos iguais estes políticos. Depois de servido, já nem o Pina Moura cá quer vir! E lá disse o Calha que era amigo e camarada do Valente e porque, por ser amigo e camarada, o Valente era o melhor que podia haver para a Guarda. Em resumo, o Valente era o melhor para a Guarda porque era amigo do Sócrates e o Sócrates gostava da Guarda. Poucas palmas, mas algumas, discurso à espera de melhores dias.

Antes de ser dada a palavra ao Sr. Eng.º para o seu discurso de encerramento ainda voltou o Cabral ao palanque para ler a mensagem do amigo do Sr. Eng.º – a qual, em resumo, dizia que confiava no amigo, pois bem o conhecia desde os tempos em que ambos tinham cursado Engenharia no ISEC.

E mais não disse nem tinha que dizer. Muitas palmas

Finalmente o Valente:

Curriculum: foi presidente da Junta de Freguesia do Porto da Carne. Foi vereador da Câmara da Guarda. Foi vereador da Câmara de Celorico da Beira, mas se pudesse tirava a nódoa do currículo.

Teve, e tem, vários cargos de nomeação (Polis e REFER). Em linguagem guterrista, é um “boy”.

Esteve na Associação de Futebol da Guarda por indicação do PS e da Câmara da Guarda. Resumindo: o Sr. Eng.º está sempre disponível para o PS e é amigo de Sócrates, o Primeiro Ministro de Portugal.

Discurso de apresentação do candidato Valente.

O Sr. Eng.º disse ter algumas ideias para o concelho, as quais assentam em três vectores…

Primeiro, quer criar riqueza. Segundo, quer que as pessoas vivam melhor nas suas terras. Terceiro, quer ser solidário com os que mais necessitam. Elementar meu caro Watson, como diria Sherlock Holmes. Já agora Sr. Eng.º, com tão grandes ideias de criação de riqueza e justiça social não acha que ajudaria mais o desenvolvimento do concelho ao criar uma empresa privada do que a gerir dinheiros municipais?

Mais disse o Sr. Eng.º para terminar que o programa eleitoral e a lista que vai liderar (tão bons que até os socialistas há-de surpreender) serão apresentados na altura certa. Se para o programa eleitoral aceita ideias de todos nós, para a lista só aceita as dos chefes do aparelho do PS, pois bem sabemos que o Sr. Eng.º não é dirigente partidário e assim sendo nem S. Sócrates lhe pode valer.

Devido ao tom monocórdico e sem chama do discurso do Sr. Eng.º, quem por esta altura já rezava a Nossa Senhora dos desvalidos para que o suplício acabasse depressa eram a ex-presidente, Maria do Carmo, e o futuro ex-presidente Álvaro Guerreiro. (…).

Depois e porque tinha de ser, mas sem olas nem olés, o povão lá bateu as palmas que tinha de bater e, para alívio de todos os presentes, ainda não eram onze horas, foi dada por finda a festa.

E tudo o que vi e ouvi aqui fica o registo e se a Imprensa dita oficial disser o contrário do que aqui fica escrito é porque a Imprensa não é isenta.

Um socialista devidamente identificado

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