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A “Ambulância” de Manuel da Silva Ramos

Novo romance do escritor covilhanense retrata um país moribundo e à deriva

“Ambulância”, o novo romance de Manuel da Silva Ramos, retrata uma sociedade doente, moribunda e à deriva. O livro, editado pela D. Quixote, foi apresentado na última quinta-feira, no salão nobre da Câmara da Covilhã, perante algumas dezenas de amigos e apreciadores, e já tem prevista uma segunda edição.

O título escolhido para o novo romance do escritor covilhanense não é mais do que uma metáfora para caracterizar um Portugal contemplativo e contemporâneo, onde impera a violência, os maus-tratos infantis e a indiferença da sociedade civil. Ao longo de cerca de 300 páginas, Manuel da Silva Ramos vagueia pelas vidas de duas personagens reais: Carlitos, um jovem deficiente assassinado pela mãe, e Milinha, uma criança que foi fechada numa capoeira pela mãe e que, após a morte desta, foi transformada numa espécie de “santa” pela tia. “Ambulância” é assim um retrato duro de uma sociedade «indiferente», mas também um «alerta» para que as pessoas denunciem e se revoltem contra a violência praticada sobre as crianças. A preocupação pelos excluídos tem sido uma constante ao longo da sua obra. Foi assim em “Viagem com um Branco no Bolso” (2000), em que abordou as histórias do anão de Arcozelo, com 75 centímetros de altura, e do gigante Manjacaze. E, mais recentemente, em “Café Montalto”, onde falou de uma pessoa com problemas de autismo.

Uma consciência solidária que herdou do seu pai, «uma referência importante na minha carreira literária», disse o autor, prometendo homenageá-lo num livro que já está a escrever. O carácter trágico de “Ambulância” passa despercebido numa prosa que toca o jocoso, com as referências linguísticas mais características de Portugal, as alusões autobiográficas e até mesmo algumas piadas em torno de Durão Barroso, onde “Chernobill” dá lugar a trocadilhos com o cherne. Nascido em 1947 no Refúgio, Manuel da Silva Ramos adquire com este romance, a sua 12ª publicação, o reconhecimento de uma editora prestigiada, a D. Quixote, o que lhe proporciona um respeito e conhecimento que ainda não tinha junto das grandes massas. Uma atenção que o escritor reclama do Estado para com os «artistas». O escritor destacou-se em 1969 com o seu livro de estreia, “Os três seios de Novélia”, que lhe valeu o Prémio Novelística Almeida Garrett. Para além da trilogia “Tuga” escrita em parceria com o amigo Alface, são ainda de destacar os livros “Viagem com Branco no Bolso” (2000) e “Jesus: The Last Adventure of Franz Kafka” (2002).

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