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25 anos depois

Sem uma precisão histórica factual, decido recordar aqui como era a minha vida com menos 15 quilos, quase todos alojados no ventre, com uma farta cabeleira que entretanto deu em rarear e vivendo sem telemóvel, sem computador e sem Internet. Havia um muro em Berlim que fui visitar. Havia uma Jugoslávia que se morreu de morte matada e uma Angola aos tiros e sopapos de um tal Savimbi, que caiu em combate de tanto guerrear. Há 25 anos estava a terminar o meu curso, casei em dezembro e conduzia uma Diane castanha que meus pais tinham entregue aos filhotes. Em 1987, os manos Zé, Pedro e Paula já estavam a trabalhar. Havia emprego para quem se formava e remuneravam com dignidade os estágios de trabalho. Não havia acordo de Bolonha e as universidades privadas começavam a florir no advento Cavaquista. Na Guarda, o prémio da boa gestão de Raimundo no IPG foi mesmo um processo em tribunal grave. Foi das poucas obras sem derrapagem de que houve memória. TV só havia uma, a portuguesa e da RTP. A governação e as Câmaras delapidavam os fundos comunitários e o euro estava a mais de uma década de distância. Nelson Piquet era campeão do mundo. O Zeca Afonso morto de morte morrida. Há 25 anos o mundo era completamente diferente e os mortos de morte matada, nas estradas diminutas e mal desenhadas do Salazarismo bafiento, levavam milhares de portugueses por ano. Podiam conduzir alcoolizados, sem cinto, sem proteção de cabeça. Podiam fumar em todo o lado, podiam dar entrevistas na TV de cigarro na mão. Há 25 anos eu vestia ceroulas porque estava mal adaptado ao frio. Há 25 anos levantava-me no autocarro para deixar sentar uma idosa. Há 25 anos ninguém abrandava nas passadeiras. O vermelho era “azul tinto” e zás passava-se. Ultrapassagens pela direita aconteciam. Hoje, a moda pegou nos campos de futebol, mas então cuspia-se no passeio. Nós tínhamos vínculo à Função Pública, tínhamos Internato Geral pago de dois anos. Não havia ainda exclusividade e a Drª Leonor Beleza começava o ataque aos médicos. Hoje, adora-os na Fundação que dirige. Já se esqueceu do “Independente” e do “Sete” e da “Capital” que então líamos e tanto falaram dela. Vou reunir no Hotel das Termas da Cúria a 12 de maio, pelas 12h30, com o meu Curso Médico que se formou há um quarto de século. Caramba!

Por: Diogo Cabrita

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