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2014 é subjectivo

Extremo Acidental

Gostava que em 2014 Portugal tivesse um competente governo de direita. Mas até ficava satisfeito se Portugal tivesse um governo competente. Aliás, como mínimo, já não me importava que Portugal tivesse um governo.

Gostava que em 2014 os mercados e as agências de rating fossem amigos de Portugal. Se não lhes for possível, pelo menos que não se comportem como um ex-marido despeitado. Mas se lhes der para o rancor, antes o divórcio do que ver a República submissa e maltratada.

Gostava que em 2014 as cidades, vilas e aldeias do interior fossem mais bem tratadas pelo poder central. No mínimo, que as cidades, vilas e aldeias do interior fossem bem tratadas pelo poder local. Mas já me satisfaria se no fim do ano o interior ainda tivesse cidades, vilas e aldeias.

Gostava que em 2014 os ateus, meus camaradas de fé, se decidissem se gostam do Papa Francisco que é crítico do capitalismo financeiro ou se detestam o Papa Francisco que recusa o aborto e a ordenação de mulheres. Mas não seria mau se optassem pela terceira via, que é aceitar que o senhor Bergoglio é uma coisa que nós não somos: católico.

Gostava que em 2014 se fizesse uma grande produção televisiva, contando toda a história da Bíblia, do Génesis ao Apocalipse, e que Diogo Morgado desempenhasse todos os papéis da série, desde Adão à prostituta da Babilónia. Caso não seja exequível, que faça apenas de Hagar e Maria Madalena.

Gostava que em 2014 os Delfins não regressassem, os Pólo Norte não aparecessem e Margarida Rebelo Pinto escrevesse a sua primeira obra literária. Mas se quiserem continuar a cantar e a escrever, que avisem, para não sair à rua.

Gostava que em 2014 as crónicas do “Extremo Acidental” fossem muito boas. Como a expectativa é baixa, já só espero que as crónicas sejam. Mas se nem a ser chegarem, ao menos que aqui estejam, apenas.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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