Quando, em maio de 2016, é formalizada a vontade de candidatar a Serra da Estrela a Geopark Mundial da UNESCO, estávamos no início de um longo caminho cujo término é impossível de determinar, pela própria natureza desta classificação. Quatro anos volvidos, no dia 10 de julho de 2020, a UNESCO ratifica a decisão do Conselho e distingue o território da Estrela como Geopark Mundial, tornando-a no quinto Geopark português e num dos 169 territórios classificados em todo o mundo.
Este ano assinalamos, assim, o primeiro aniversário da classificação, num ano marcado, inevitavelmente, pelos condicionalismos impostos pela pandemia que vivemos. Todavia, este primeiro aniversário não podia deixar de ser assinalado e de marcar algumas das iniciativas que pautaram o nosso passado recente, as quais reforçaram, incontornavelmente, a estratégia “bottom-up” e a visão holística do território, com trabalho firmado nas áreas da Geoconservação, da Educação, da Ciência, do Desenvolvimento Sustentável e da Comunicação. De facto, os últimos 365 dias mostraram que a obtenção da classificação por parte desta organização não foi o fim de alguma coisa, mas o princípio de um trabalho de gerações que marcará inevitavelmente o desenvolvimento sustentável, integrado e em rede desta que é a grande Montanha do nosso país.
O Estrela Geopark é deste modo, um ativo fundamental para as políticas de valorização e desenvolvimento territorial, contribuindo para um maior conhecimento e valorização dos recursos endógenos, com destaque para o património geológico, assim como para a relação que secularmente se tem aprofundado entre estes e a ocupação humana. Por isso, têm sido implementados inúmeros projetos que visam exatamente alcançar o mais relevante objetivo de um Geopark: a promoção de um desenvolvimento territorial participado e integrador. Em marcha, estão projetos como a valorização do património e das tradições, a implementação da Grande Rota do Estrela Geopark, o desenvolvimento de sistemas de informação integrada turística, a participação em iniciativas internacionais de partilha de boas práticas com outros Geoparks, o desenvolvimento de uma estratégia educativa que reforça a serra da Estrela como o mais relevante laboratório vivo do país, ou a implementação de uma rede de Ciência e Educação internacional que atraia para a serra da Estrela investigadores, estudantes e outros públicos com interesse nestas áreas.
Na verdade, o primeiro ano tem sido promissor, demonstrando o grande potencial que este território tem e o quão importante é a sua distinção internacional por parte da UNESCO. Neste contexto, destacamos o Prémio Geoconservação atribuído pela ProGEO, a nomeação como um dos finalistas do Prémio Nacional de Turismo 2020, o terceiro prémio dos Prémios de Empreendedorismo do Turismo do Centro, entre muitos outros que têm sublinhado o trabalho e a relevância deste Geopark. O nosso passado recente fica ainda marcado pelo aprofundamento do trabalho realizado em parceria com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, com o Turismo de Portugal e com os restantes Geoparks Mundiais da UNESCO portugueses.
De facto, estas têm sido algumas das inúmeras iniciativas que tiveram lugar no último ano, quase sempre procurando estabelecer uma clara relação entre o património geológico, a dimensão paisagística da Serra da Estrela e a capacitação dos seus agentes e comunidades. Sobre esta matéria, destaca-se a formação com o Turismo de Portugal na área do Geoturismo ou a aprovação, em parceria com o Instituto Politécnico da Guarda, do Curso Técnico Superior Profissional em Guias de Natureza.
Naturalmente, não poderíamos deixar de comemorar esta efeméride e decidimos fazê-lo da forma como um Geopark UNESCO deve atuar; com as comunidades. Assim, nos próximos três fins de semana iremos promover 9 caminhadas interpretadas, nos 9 municípios do território, convidando as populações a conhecer o seu território e o seu património, para melhor o preservar e valorizar. Esta é uma iniciativa que pretende também fomentar o sentido de orgulho e pertença dos habitantes deste Geopark, tornando-os agentes de gestão e mudança.
O futuro será, para o Estrela Geopark, de afirmação e de continuação do trabalho desenvolvido, com destaque para o alargamento dos locais de interesse geológico do território, que passarão de 124 para 144, a melhoria da sua visitação e a conclusão do projeto da Grande Rota (previsto para o outono de 2022). A realização da série documental “Estrela: um território em mudança”, cujo primeiro episódio estreou no passado dia 18 de junho, o aprofundamento da nossa rede de parceiros, em permanente crescimento, e da promoção dos produtos locais, através da marca GEOfood, à qual aderimos em agosto do ano passado, estão também em agenda.
Como vimos, este primeiro ano tem sido o corolário do trabalho iniciado em 2016, onde os nove municípios, as instituições de ensino superior, as escolas do território, as associações locais e a comunidade em geral têm sido chamadas a participar a aprofundar e a construir um novo paradigma de desenvolvimento para a Serra da Estrela. Este passará inevitavelmente pela priorização do valor do seu património e identidade e da afirmação da sua internacionalização, num futuro onde as comunidades locais terão, incontornavelmente, de tomar a liderança do seu próprio processo de desenvolvimento, participando ativamente na construção e desenvolvimento deste território. O Estrela Geopark Mundial da UNESCO é sobretudo um território feito de e para as suas populações, onde da história geológica se construiu uma paisagem e uma cultura indissociáveis da geografia desta Montanha que une estes 9 municípios.
Estrela UNESCO Global Geopark: um ano de classificação
Uma montanha, 9 municípios, 1 Geopark