A região tem vindo a acentuar as características de território deprimido e desprotegido. A epidemia veio agravar problemas estruturais já existentes. Os distritos de Castelo Branco e Guarda perderam, entre 2011 e 2018, mais de 15 mil habitantes cada um. A remuneração base média mensal bruta dos trabalhadores é uma das mais baixas do país. O emprego é reduzido e pouco qualificado. A precariedade atinge percentagens assustadoras de jovens.
A extensão e gravidade dos problemas que os distritos de Castelo Branco e da Guarda enfrentam exigem a adoção de uma política que rompa com a política de direita. As soluções não serão o incentivo ao teletrabalho no interior, nem os projetos predadores da natureza e exploradores de mão-de-obra, ou os megaprojetos turísticos na Serra da Estrela, enquanto prosseguem com o encerramento de escolas, serviços de saúde, estações dos CTT, agências bancárias, postos da GNR, etc.
O recente encerramento de 19 postos territoriais da GNR, em distritos com uma grave situação de despovoamento e envelhecimento, foi mais um (dos muitos) exemplos de desaparecimento e degradação de serviços de proximidade que tem condicionado o desenvolvimento da região.
É necessária outra política que avance com investimento público e produção nacional, apoio à agricultura familiar e aos MPME, assim como é necessário um processo sério de descentralização, inseparável da criação das regiões administrativas.
Só valorizando quem trabalha, valorizando as funções sociais do Estado e os serviços públicos poderemos combater as assimetrias sociais e regionais.
A persistência de portagens na A23 e A25 limita a acessibilidade à maioria da população e às pequenas empresas, para favorecer o negócio ruinoso das PPP. A falta de investimento em acessibilidades, como o IC6 com o túnel de Alvoaça, livre de portagens, IC7, IC31, IC37 condicionam a região; a degradação do transporte ferroviário e a não reabertura da linha do Douro entre Pocinho e Barca d’Alva, assim como a ausência de melhoria de oferta de transportes rodoviários e de passes sociais acessíveis, compromete a mobilidade das populações.
Num quadro em que o SNS se mostrou determinante no combate à epidemia, não podemos ocultar que a fusão e agregação de serviços de saúde conduziu à perda de capacidade e de valências. A criação da ULS da Guarda EPE há 12 anos veio agudizar o subfinanciamento crónico e progressivo do SNS, tornou regra a falta de pessoal e colocou serviços com dificuldades de substituição de profissionais. É preciso investir seriamente no SNS. Sucessivos governos têm desvalorizado o sector público de saúde em benefício dos grupos privados e do negócio da doença.
Em suma, o problema do interior tem sido a política de direita! O tempo é de contrapor à submissão dos sucessivos governos aos interesses do grande capital e às imposições da UE, que impedem a resposta aos problemas nacionais e à arrogância antidemocrática e fascizante que os agrava, uma política alternativa que afirme os valores de Abril, que recupere parcelas perdidas da nossa soberania para libertar os meios e os recursos para tomar nas nossas mãos os destinos das nossas vidas e retomar o rumo de desenvolvimento.
* Comissão Política do Comité Central do PCP