Em 2015 foi possível ver nos cinemas o “Mundo Jurássico”, o quarto capítulo da saga sobre o parque de dinossauros nascido em 1993 com “Parque Jurássico”. O filme conheceu um sucesso planetário, arrecadando mais de 1.000 milhões de euros em apenas duas semanas nas salas de cinema.
Apesar do apreço revelado pelo público, o último filme não encontrou o mesmo entusiasmo em paleontólogos ou especialistas, que se lançaram numa verdadeira caça ao erro. O filme contém muitas falhas quanto à reconstituição dos animais pré-históricos.
Aquando da estreia dos dinossauros no grande ecrã, as coisas foram diferentes. Quando se estreou o primeiro “Parque Jurássico”, a apreciação científica foi unânime. Tendo em conta o facto de no filme se permitirem algumas liberdades narrativas, os especialistas em paleontologia avaliaram de forma positiva o trabalho de investigação científica e paleontológica que havia por detrás do filme. O jornal britânico “The Guardian” escreveu: «Quem realizou “Parque Jurássico” trabalhou lado a lado com os cientistas e representou muitas coisas de forma acertada, usando a ciência como base da sua capacidade estética para nos surpreender e assustar».
Pelo contrário, com “Mundo Jurássico” não se conseguiu fazer o mesmo. O primeiro grande erro que salta à vista, mesmo ao paleontólogo mais distraído, está relacionado com o aspeto da pele que cobre todo o corpo dos dinossauros. Os animais que se deslocam no cenário são totalmente imberbes, embora nos últimos 20 anos se tenha concluído que a maior parte dos dinossauros estavam cobertas de penas.
Também em exemplares concretos se registam várias imprecisões inclusivamente naqueles que nunca existiram, como o Indominus rex, o maior e mais terrível dinossauro do “Mundo Jurássico”, fruto da fantasia dos cineastas. Segundo os especialistas, o resultado não é verosímil. Por exemplo, o Indominus apresenta membros anteriores exageradamente longos, mesmo para um animal criado pela engenharia genética; estes não representariam qualquer vantagem, exigiriam muita energia para serem mantidos e constituiriam mais uma área onde o animal poderia ser ferido e, assim, ficar sujeito a infeções.
O mosassauro, um enorme animal aquático – o monstro de que tanto se falou depois da descoberta de um exemplar numa pedreira holandesa, no século XIX –, é, no filme, muito maior do que era na realidade. E há mais: os exemplares do velociraptor no filme apresentam vários metros de comprimento, embora se pense que eram muito mais pequenos, apenas com o tamanho de um peru.
Por último, parece que os guionistas também sobrestimaram a força dos pterossauros, os dinossauros voadores que, no filme, conseguem fugir da jaula das aves e atacam os visitantes do parque, levantando-os do chão e matando-os. Os pterossauros existiram, voavam e tinham um aspeto muito parecido com o que é apresentado no filme. Mas todos os especialistas estão de acordo em que nunca teriam conseguido levantar o peso de um ser humano adulto. Precisamente por serem os primeiros vertebrados voadores, os seus ossos eram muito frágeis.
Este “Mundo Jurássico” é um exemplo, entre muitos outros, onde a ficção e a ciência percorrem cenários diferentes.