P – É cofundadora e atual treinadora da Escola de Futebol Feminino da Guarda. Qual é a avaliação que faz deste primeiro ano de atividade?
R- A avaliação é positiva. Foi pena termos apanhado agora, desde fevereiro, [a crise] do coronavírus, porque a evolução tem sido boa. E acho que os números dizem isso, que temos cada vez mais atletas. Temos cerca de 50 atletas, dos 5 aos 17 anos. Portanto a evolução tem sido boa. Foi mesmo pena ter terminado em fevereiro, porque nós só tivemos jogos desde finais de outubro, novembro, até vir o vírus.
P – Mas, segundo sabemos, o clube foi fundado há mais tempo… O que motivou este projeto?
R- O clube foi fundado a 6 de agosto [de 2019]. Depois começámos com treinos de captação, claro e depois a competição foi, como disse, no final de outubro. Mas esta ideia surgiu entre as três – eu, a Diana [Sousa] e a Vanda [Sequeira] – numa conversa durante um jantar. Estávamos a falar e decidimos fazer um torneio de futebol feminino porque não havia na Guarda. E depois ideia puxou ideia e começámos a pensar “vamos fazer treinos de captação, só para ver como corre”. Também entrávamos com uma equipa, pois queríamos levar também meninas a jogar no nosso torneio, não é? Quando começámos, no primeiro treino apareceram-nos quase 30 atletas e isso levou-nos a pensar que, se calhar, também tínhamos de fazer um clube porque, afinal, há muitas meninas a jogar futebol aqui na Guarda.
P – Além da pandemia – que já tinha referido –, quais têm sido as maiores dificuldades, desde a fundação do clube?
R – As maiores dificuldades, a meu ver, são mesmo os campos. Nós não temos campo próprio, então torna-se um bocadinho complicado. Neste momento nem sequer estamos a treinar, porque eles não deixam treinar a formação aqui na Guarda. Eu sei de equipas sub-19 (porque este ano queríamos entrar para o campeonato nacional sub-19) que, como têm escalão sénior e têm campos próprios e tudo, já estão a treinar desde setembro. E nós aqui continuamos “paradas” porque só continuamos a fazer treinos no Polis para as miúdas. Isto porque não queremos que elas fiquem paradas. Por isso a principal limitação na nossa cidade é mesmo os campos. Só temos dois e somos mesmo muitas equipas.
P – E não foi um problema não existirem competições de futebol de onze aqui na região?
R – É assim, nós jogamos futebol de nove. Mas sim, sim. Nós competimos no campeonato masculino de infantis da Associação de Futebol da Guarda, mas claro que é completamente diferente. Por isso é que este ano inscrevemos uma equipa sub-19 para competir no nacional feminino. As outras equipas mais novas é que têm na mesma de continuar a jogar contra os rapazes, mas isso, por um lado, também é bom porque, como sabemos, os rapazes têm outros aspetos – especialmente o físico – que nos ajuda a crescer, não é? Eles são mais rápidos, mais fortes, o que também é bom para as nossas atletas evoluírem.
P – Para além do campeonato há outros projetos a curto prazo?
R – Por agora não. Claro que ambicionamos sempre mais, mas temos os pés assentes na terra, queremos fazer as coisas com calma. Somos um clube ainda muito recente e, apesar de termos experiência – eu fui jogadora muitos anos, a Diana e a Vanda também – mas é diferente. Gerir um clube e saber como é ser jogadora… mas claro que ambicionamos mais e mais.
P – E qual é o feedback que têm por parte das meninas?
R – É bom, delas e dos pais. Ainda agora (devido à pandemia) nos foi dito por eles que eram a favor de continuar os treinos. Nós temos cuidado, medimos a febre sempre no início do treino, os treinadores têm máscara, fazemos treinos [de forma a que] não tenham muito contacto, por estações, por grupos… e é o que os pais dizem, para continuarmos a fazer porque se elas na escola também têm atividades porque razão no clube não iriam ter?
P – O facto de estarem radicados numa zona do interior, que acarreta alguma dificuldade em reter os jovens, pode constituir um problema para o desenvolvimento do clube?
R – Pois, nós só temos até sub-19 mesmo por esse motivo. Porque as atletas chegam ao 12º ano e muitas delas – foi o meu caso – vão estudar para fora. Por isso não queremos uma equipa sénior neste momento. Porque as atletas chegam a uma certa idade e vão estudar para fora porque o nosso distrito não oferece condições para que elas continuem cá. Temos o Politécnico sim, mas claro que é para as grandes cidades como Lisboa, Porto, Coimbra que elas querem ir estudar.
Perfil:
Rita Almeida
Treinadora da Escola de Futebol Feminino da Guarda
Idade: 29 anos
Naturalidade: Guarda
Currículo: Licenciada em Psicologia do Desporto e do Exercício e Mestre em Treino Desportivo. Esteve no Grupo Desportivo Cultural A dos Francos (Caldas da Rainha), o Núcleo Sportinguista de Rio Maior, e o Atlético Ouriense. É treinadora de futebol há mais de dez anos.
Livro preferido: Não tem
Filme preferido: “Bobby Robson – More Than a Manager”, documentário de Gabriel Clarke e Torquil Jones
Hobbies: Desporto.