Sofia Pinto é a grande responsável pela criação das “Ribeirinhas”, bonecas de porcelana fria. Depois de um interregno de dez anos, a artesã guardense de 46 anos tem pronta uma nova exposição de figuras que recriam lendas históricas no feminino. A mostra estará patente na Guarda em data ainda não definida devido à pandemia.
O ambiente e as artes foram as suas duas paixões na adolescência, tendo acabado por enveredar profissionalmente pela área ambiental. Atualmente é engenheira ambiental na empresa de turismo de natureza do marido e mantém viva a paixão pelas artes através destas figuras que continua a criar e porcelana fria. «Este material de modelação, também conhecido por “biscuit”, é feito artesanalmente, mas não tem a necessidade de ir cozer a altas temperaturas como o barro ou a porcelana normal. Tem o inconveniente de ser mais frágil que a típica porcelana», esclarece Sofia Pinto. Desde muito cedo que realiza exposições, a primeira aos 16 anos na Guarda, ainda em contexto escolar, e a segunda no ano seguinte. Foi o ponto de partida para inúmeros convites para expor a sua arte. O primeiro surgiu em 1994, quando a Câmara da Guarda a desafiou a imortalizar a figura histórica da “Ribeirinha” – a amante do rei D. Sancho I (1185 e 1211), fundador a cidade. Assim nasceram as “Ribeirinhas”, bonecas de porcelana fria oferecidas pela autarquia como lembrança a visitantes e convidados oficiais para transmitir um pedaço da história da cidade mais alta.
Mais tarde, foi a vez do Governo Civil encomendar a Sofia Pinto outra personagem tradicional da região, a “Aguadeira” – mulher que levava água fresca aos homens que trabalhavam nos campos agrícolas. Tal como a “Ribeirinha”, esta figura em porcelana tinha essencialmente o objetivo de revelar os trajes regionais usados antigamente e para isso foi necessária «muita inspiração e pesquisas muito intensas». «No caso da “Ribeirinha” havia vários textos que faziam referência a Maria Pais Ribeiro», revela a artesã. Para além da “Ribeirinha” e da “Aguadeira”, a artesã criou mais algumas peças de tema livre, mas sempre ligados à temática dos trajes, nomeadamente do século XIX, que expôs pela última vez em 2010. De então para cá fez uma pausa nesta paixão e dedicou-se «a 100 por cento» à vida profissional e à família. Pelo meio não deixou de receber encomendas «esporádicas e de certa forma desafiadoras» das suas bonecas, algumas delas foram figuras únicas que representavam jovens nos seus bailes de finalistas.
Sofia Pinto confessa a O INTERIOR que «as mãos que as criam são as minhas, mas elas têm vontade própria de ser e acabam por criar efeitos que são independentes da minha vontade». E essa é a finalidade que a artista privilegia em qualquer peça que crie. A transmissão de sentimentos, de emoções e a personalidade própria de cada personagem são «elementos fulcrais» que se conjugam no processo criativo de cada boneca, sublinha a artesã. Com o passar do tempo, o crescimento do filho e a pandemia da Covid-19 fizeram com que Sofia Pinto voltasse a ter «vontade e inspiração» para abraçar um novo desafio que vai consistir na recriação de lendas históricas no feminino. «Está prevista uma exposição dessa coleção cá na Guarda, mas ainda sem data devido à situação que vivemos», adianta. Outro projeto em curso é a criação de presépios que depois serão expostos em França, pela altura do Natal.
«A arte e estas bonequinhas acabam por ser um bocadinho da materialização de alguma parte mais sonhadora de mim, de sentimentos e de detalhes que muitas vezes não se conseguem exprimir verbalmente ou na corrida que é a nossa vida do dia a dia», afirma a artesã.