A adolescência é um período de grandes mudanças que ocorre entre a infância e a idade adulta e limitada cronologicamente entre os 10 e os 19 anos. Carateriza-se por alterações a nível biológico, psíquico, emocional, familiar e social que prepararam o adolescente para a concretização das grandes tarefas desta idade, tais como a integridade, autonomia, identidade, individualidade e sexualidade.
Neste caminho, o adolescente é sensível à influência de fatores de risco e fatores protetores, justificando-se o papel de supervisão do adulto, que se concretiza pelo seu exemplo e pela ajuda no processo de aquisição de autonomia e integridade. A comunicação bidirecional entre ambos, a concessão da liberdade merecida e a antecipação de cenários, para que o jovem seja confrontado pelo adulto com os problemas antes de se expor aos riscos, ajudam-no a desenvolver a sua resiliência e a capacidade de “previsão da consequência dos seus atos”.
O adulto deve estar atento aos sinais comportamentais de alarme do adolescente, tais como a perda de interesse pelas atividades do quotidiano, sentimentos de tristeza, ataques de choro sem motivo aparente, agravamento do desempenho escolar, isolamento com agressividade, desleixo em relação ao autocuidado, existência de padrões restritivos alimentares, suspeitas fundamentadas de comportamentos de risco, alterações do padrão do sono, existência de conversas ou piadas sobre suicídio, falhas frequentes de memória ou ansiedade de concretização que prejudiquem o desempenho escolar.
Quanto aos sinais/ sintomas corporais de alarme, destaco o cansaço fácil e frequente, alterações bruscas de peso, sinais de automutilação, existência na rapariga de pilosidade excessiva em locais infrequentes, irregularidades menstruais, recorrência de queixas dolorosas (cefaleias, epigastralgias – dores de barriga, dorso-lombalgias, artralgias – dores nas articulações, etc.) ou a presença de qualquer questão estética que interfira com a autoestima e autoimagem do jovem (ex. acne), entre outros.
Qualquer um destes sinais/ sintomas deve ser motivo de procura de ajuda, nomeadamente na Consulta de Medicina do Adolescente. A procura de cuidados de saúde não deve ser adiada, mesmo em tempo de pandemia. Os hospitais dispõem de medidas que garantem a segurança de todos.
A Consulta de Medicina do Adolescente é importante pelo seu cariz de rastreio especializado que permite a deteção de problemas de saúde, que quando orientados precocemente, evitam o condicionamento no futuro da saúde e bem-estar do adolescente.
Deve ser realizada em cada uma das fases que carateriza a adolescência: inicial (10-12 anos), intermédia (13-16 anos) e tardia (a partir dos 17 anos), para que assim os problemas e sinais de alarme mais típicos destas idades, sejam detetados precocemente.
Assim, a adolescência não é apenas uma fase de transição na vida humana, mas sim uma fase determinante e única para a otimização da saúde dos adolescentes e por conseguinte da população no futuro. Esta é a última oportunidade onde o retorno do investimento na redução de fatores de risco e a promoção de fatores protetores se traduz em ganhos efetivos em saúde.
* Pediatra do Hospital CUF Viseu
N.R.: Esta secção é uma colaboração mensal do Hospital CUF Viseu, na qual os seus profissionais partilham conselhos e dão dicas sobre saúde.