A Guarda sempre teve malapata. Ao contrário da Covilhã, em que a administração do seu hospital cai há décadas nas mãos do Dupont ou do Dupond, com os resultados que se têm visto, a do hospital da Guarda tem sido entregue a todo o tipo de aventureiros e convencidos. Para a dor ser maior, a Covilhã tem conseguido até despachar-nos por correio expresso aquilo que já não quer. Recordo-me de um gestor vindo daquelas bandas, condenado por crimes de abuso de confiança fiscal, e que depois veio para o nosso hospital, sem ninguém saber da história, para gerir um orçamento de mais de 100 milhões de euros! Ou de quando Álvaro Amaro, esgotada a capacidade empregatória da autarquia que dirigia, manobrou por forma a que os destinos do hospital fossem entregues a um dos seus mais submissos e externos correligionários. Não admira, quer num caso, quer noutro, que ambas essas administrações tenham sido recentemente condenadas pelo Tribunal de Contas a pagamento de multas que, nalguns casos, chegam quase a 20 mil euros para alguns dos seus membros. Aliás, Álvaro Amaro, enterrado em processos criminais até ao pescoço, é apenas a borra do vinho que por aqui tem fermentado.
Esta imagem negativa daquela que é a maior empresa da Guarda, ou pelo menos a mais importante, não tem paralelo em nenhum contexto comparável com cidades de igual dimensão. Quando é para deitar abaixo e passar vergonha, sobretudo ao nível do poder central, a Guarda leva sempre a medalha de ouro!
O atual conselho de administração do hospital, presidido por uma médica da cidade, foi por isso olhado como uma oportunidade de mudança. Teve o maior estado de graça jamais concedido a qualquer administração. Durante imenso tempo foi beneficiário de uma inerte condescendência com a sua manifesta incompetência para lidar com os problemas mais simples. Ainda assim, conseguiu desbaratar todo esse potencial de esperança e tolerância e deixar à administração vindoura um rol de problemas que levam a crer ser mais fácil ir esta a pé à lua do que encontrar-lhes solução. O potencial explosivo para a desgraça explica a enorme dificuldade em se constituir um novo conselho de administração que substitua o defunto atual. O problema principal consiste, aos olhos do poder, em se encontrar um diretor clínico bem comportado. É neste contexto famosa a justificação de Isabel Coelho, acerca da escolha para diretora clínica hospitalar da mesma médica que já havia desgraçadamente integrado a administração de Ana Manso: “foi a única que aceitou”. Recorde-se a propósito que a administração dessa médica e de Ana Manso fez tanta trapalhada que teve de ser demitida, ao fim de apenas onze meses, pelo mesmo ministro que a havia nomeado…
Esta frase lapidar de Isabel Coelho explica qual o maior problema do hospital da Guarda, a saber, o método e critérios de escolha da sua administração. Não é só o facto de se convidarem pessoas que têm tanta noção de como funcionarão os seus pares na futura administração como eu tenho sobre a castração do terceiro testículo a javalis. É também o facto de só serem convidadas pessoas que apareçam aos olhos do partido no poder como de “confiança” ou “não perigosas”. Quem souber fazer mais do que andar e respirar ao mesmo tempo fica quase automaticamente excluído da lista de convites. O método do regime consiste em escolher aqueles que não façam ondas.
Isabel Coelho, sempre que viu o Titanic em rota de colisão com uma qualquer ilha, só pensou nos riscos de a contornar e de colidir com um iceberg. Por isso, a sua escolha para enfrentar os problemas consistiu em deixar o barco seguir em… frente! O homem de Coimbra, facilmente mais inteligente do que ela, não se tem cansado de pensar em mudar o rumo do barco. Mas, quando convida o décimo marinheiro com a conversa de ele ser o mais competente, adorado, criativo e inteligente do mundo, tem grande dificuldade em explicar-lhe a razão para os nove anteriores terem recusado o convite. É que, como diz aquele velhinho provérbio da Guarda, “banha da cobra não vira navio”!