Em tempo de isolamento social, tudo aquilo que não podemos dizer é que estamos ou estivemos sozinhos. Talvez nunca nos tivéssemos sentido tão próximos uns dos outros, ou que partilhássemos sentimentos tão semelhantes. “Não estamos sós nisto”, são palavras que ecoaram em tempos de confinamento, ditas por jornalistas, políticos, governantes, médicos, etc., e chegaram até nós pela voz e imagem dos media.
Talvez o sentimento e a consciência da condição humana nunca estivessem tão presentes, como hoje e agora. E talvez os pensamentos que nos ocorrem todos os dias sejam vividos por todos, em qualquer parte do mundo, de forma muito semelhante.
Reinventamos a forma de trabalhar, de estudar e de nos relacionarmos, recorrendo às tecnologias. Em casa, passamos mais tempo com a família, mas também com os media.
É através deles que temos conhecimento do que se passa no mundo inteiro e é através deles que comunicamos com os que nos estão próximos, geograficamente ou afetivamente, e com todos os outros.
Digamos que são, também, os media, presentes na nossa cibercultura, que estão a fazer com que nos adaptemos a uma realidade diferente sem que tenhamos de parar por completo. E que ao “escondermo-nos” desse vírus possamos continuar a surgir ao mundo e para o mundo, nas mais variadas tarefas que habitualmente fazíamos.
Hoje, estamos também conscientes do papel que os media têm nas nossas vidas e que dependemos deles para tudo, até para a nossa sobrevivência e sustentabilidade.
Os media há muito que estão entranhados nas nossas vidas e os novos media, como a Internet, têm vindo a ocupar um lugar central no dia-a-dia das pessoas, sobretudo dos jovens e cada vez mais jovens, as crianças.
E, se antes, os mais pequenos ainda eram “poupados” à exposição aos novos media, no presente é praticamente impossível que isso aconteça. Não falo só da telescola, que utiliza um medium tradicional – meio – a televisão, mas o ensino à distância através de plataformas da web, facilitando o contacto dos professores com os alunos (vice-versa), sendo que o grande desafio, no presente, para as instituições é o de permitir que todos tenham acesso à Internet para a transmissão de conhecimentos e a aprendizagem.
A “obrigação” de pais, alunos, professores terem de utilizar estes recursos para o ensino torna-se numa ótima oportunidade para que todos, em conjunto, aprendam a utilizar os media, compreendê-los e tirar o melhor partido de cada meio de comunicação e informação.
Todos os meios têm as suas vantagens/ desvantagens. Só temos de saber utilizá-los convenientemente. É isso que os pais, agora que passam mais tempo com os filhos, podem fazer: educar os seus filhos para a compreensão/ utilização dos media. Como? Cada meio tem a sua forma de comunicar. Uns são mais “envolventes” do que outros. Uns convidam-nos a pensar mais e outros quase que pensam por nós. Por exemplo, a televisão utiliza o som e imagem para a transmissão de mensagens, o livro utiliza o texto escrito/ imagem visual, sendo estática, somo nós que criamos as imagens através do pensamento; a rádio serve-se do som para comunicar e também dá mais liberdade à nossa imaginação; e a Internet é uma junção de todos eles. A Internet é um novo medium e o processo de comunicação é diferente de todos os outros porque qualquer um de nós pode inserir conteúdos na web e estes deixam de ser fidedignos, por vezes.
Mas, olhando para as vantagens de cada um deles, os pais e professores podem incentivar as crianças/ jovens a fazer pesquisas orientadas em cada meio de comunicação. Assim aprendem, de forma natural, e pela própria experiência, como comunica cada um deles e quais as vantagens que poderemos retirar da utilização que fazemos.
Por exemplo, numa matéria da escola, os alunos poderão começar por fazer a pesquisa num livro e terminar com a visualização de um documentário, ou pesquisar informações em websites. Também podemos explicar aos mais jovens que o valor da informação que vem num manual, num livro, ou jornal é diferente da que se encontra num website.
Já a utilização dos media, como forma de entretenimento, torna-se vantajosa quando os utilizamos de forma lúdica. Os videojogos geram sempre mais controvérsia, sendo que jogar é, também, uma forma de estimular o raciocínio, desde que o tempo de exposição não seja prolongado. Existem imensos jogos em que o conteúdo coincide com as matérias escolares.
Os media são uma invenção humana que facilita a nossa comunicação, são “extensões” da nossa voz, da nossa imagem, do nosso pensamento. Não poderemos deixar que sejam eles a ditar como devemos pensar, ou agir, mas torná-los nas nossas ferramentas, aliadas, para vivermos a nossa experiência mundana.
* Investigadora MILOBS (Observatório sobre Media, Informação e Literacia) da Universidade do Minho