Região

Granizo e trovoada dizimam produção agrícola na Cova da Beira

Escrito por Jornal O Interior

Associação Distrital de Agricultores pede declaração de estado de calamidade e apoios a fundo perdido para os produtores

A região da Cova da Beira foi afetada na tarde de domingo por chuva, ventos fortes e granizo. A tempestade repentina derrubou árvores e estruturas, fez cair linhas elétricas, causou inundações e pode ter comprometido as colheitas agrícolas deste ano, nomeadamente na vinha e fruta, como cerejas e pêssegos.
A intempérie durou pouco mais de duas horas, mas não fez feridos, e fustigou sobretudo os concelhos do Fundão, Belmonte, Covilhã, Penamacor e a parte norte do município de Castelo Branco. As primeiras estimativas apontam para prejuízos de vários milhões de euros, tendo a Associação Distrital de Agricultores de Castelo Branco (ADACB) pedido à tutela que declare o estado de calamidade pública para possibilitar a adoção de «medidas urgentes» de apoiar os produtores afetados. Para a ADACB, tratou-se de «uma tempestade, como não há memória nesta época do ano», que dizimou os pomares (cereja, pêssego, pereira, maceira, ameixeira, damasqueiro, figueiras…), bem como o olival, a vinha e as hortas. «As culturas de Outono/ Inverno, como a aveia, azevém, trigo e feno, e os cereais de Primavera/ Verão (milho e sorgo) foram também seriamente afetados», adianta a associação.
Numa carta já enviada ao diretor regional de Agricultura e Pescas do Centro, entidade sediada em Castelo Branco, a direção da ADACB garante que «violência do temporal foi tão grande que, com a destruição dos ramos do ano, os pomares, olival e vinha serão afetados na produção do próximo ano». Para fazer face às necessidades, a associação defende a criação de uma linha de crédito «a longo prazo, sem juros, e apoios a fundo perdido» aos produtores afetados. E reitera que o atual sistema de seguros agrícolas não está adequado à realidade, «porque tem prémios caros e uma cobertura de risco desadequada, pelo que são poucos os agricultores que aderiram a este sistema». Quem também já se fez ouvir foi o presidente da Câmara da Covilhã, que disse esperar que o Governo aprove apoios diretos para os agricultores do concelho.
Vítor Pereira fala num «cenário de calamidade» e numa situação «muito preocupante», pois num momento recessão económica provocada pela pandemia da Covid-19 «esta intempérie extrema veio arruinar os campos e dar a machada final àquela que é uma fonte de rendimento muito significativa no concelho». O autarca fala mesmo em «prejuízos sem precedentes», indicando que a trovoada, granizo e chuva fortes tiveram «maior intensidade» nas freguesias de Peraboa e Ferro, onde se registaram prejuízos «de 80 a 90 por cento em todos os setores de produção agrícola e culturas da época, com especial destaque para o pêssego», que é muito representativo no concelho. «São prejuízos graves, até porque a área mais afetada ficou com quase toda a produção frutícola destruída», alertou o autarca, que fala também em perdas da ordem dos «80 a 90 por cento» na horticultura.

Ano agrícola «arruinado» no Fundão

Quem também já solicitou uma reunião urgente à ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, foi o autarca do Fundão. Paulo Fernandes reclama a «urgente» aprovação de apoios para os agricultores por considerar que a trovoada de domingo «arruinou completamente» o ano agrícola. Pelas suas contas, os prejuízos no concelho podem ascender aos 20 milhões de euros. «Se não houver rapidamente uma resposta concertada de todos e de diferentes linhas de apoio, estaremos a pôr em causa, para muitos anos, aquilo que é uma das maiores fontes de rendimento e de sustentabilidade económica, social e ambiental, como é a agricultura na região», declarou o presidente da Câmara aos jornalistas. Na sua opinião, todas as fileiras produtivas foram afetadas, com destaque para a cereja, o pêssego, a vinha e o olival, sendo quem um primeiro balanço efetuado por equipas do município aponta para prejuízos diretos acima dos 20 milhões de euros, «valor que irá crescer quase de certeza, porque sobrou muito pouco e o relato de danos continua a crescer», adianta o edil, lembrando que o setor agroindustrial representa no Fundão «cerca de 100 milhões de euros por ano».
«Precisamos que as linhas de apoio se ativem o mais depressa possível, como também as ajudas a fundo perdido, nomeadamente do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR), que apoiam a reposição do potencial produtivo, porque há perdas estruturais e infraestruturas destruídas de forma definitiva», exemplificou Paulo Fernandes, que anunciou a intenção de «conjugar esforços» com os autarcas de Belmonte, Covilhã, Penamacor e Castelo Branco, cujos concelhos também foram afetados.

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