Sociedade

«Precisamos com urgência que avancem já grandes obras para entrar dinheiro na economia local», diz o presidente do NERGA

Escrito por Jornal O Interior

Pedro Tavares considera que a Câmara da Guarda tem de avançar rapidamente com os Passadiços do Mondego e o CET no Rio Diz para «trazer dinâmica económica» ao concelho e «entrar dinheiro» nas empresas, numa altura em que o comércio reabre sem clientes.

As consequências da crise provocada pelo novo coronavírus ainda não são mensuráveis, mas começam a vislumbrar-se. Para além da questão sanitária de saúde pública e da própria vida, a economia está à beira de um colapso um pouco por todo o lado e de forma transversal a todos os sectores.
Na Guarda, o comércio local, depois de 45 dias encerrado, reabriu com pouco otimismo e muita falta de clientes. É essa a constatação de Manuel Pinheiro, gerente do grupo Pinheiro & Cª, proprietário de quatro lojas no centro da cidade, enquanto olha para a porta por onde não entra ninguém e repete «o que nunca imaginei viver», «estamos numa situação difícil e verifica-se que as pessoas ainda não saem à rua». Para o empresário, «parece difícil, mas vamos retomar na melhor maneira a partir do dia 18 de maio», ainda que «com falta de clientes». Não muito longe, na loja “Tiffosi” Joaquim Pinheiro relata que «a pandemia apanhou todos de surpresa» e que «é um problema com poucas soluções». Para o proprietário daquele conhecido franchise, «os comércios começam a abrir aos poucos» recuperando a normalidade e «tentando satisfazer as necessidades dos clientes». O empresário, mesmo sem motivos para sorrir, confia «que daqui a algum tempo sejamos capazes de esquecer isto e fazer uma vida normal. Lutamos para isso».
Mas não é apenas no comércio local e no centro das cidades, que as consequências da pandemia semeiam o pânico. Fausto Saraiva, proprietário dos Móveis Nelo, na Guarda, resume o que todos os empresários vão sentindo: «A Covid-19 irá trazer prejuízos a todas as áreas de negócio» e, pessimista, não tem dúvidas que «poderá haver o fecho de muitos», pois não será fácil fazer frente aos custos e despesas. O empresário explica que «muitas vendas foram canceladas pelos clientes» e conclui mesmo que «podemos contar com o desemprego e com rendimentos baixos nos próximos tempos». Na sua opinião, «a recuperação será difícil», mas acredita que «melhores dias virão».

Jorge Silva, do Restaurante Aquáriu’s, está otimista apesar das dificuldades provocadas pela pandemia

Um dos sectores que por estes dias mais dificuldades sente é o da restauração. Ainda encerrados, os restaurantes têm de modificar rotinas e preparar-se para dar resposta a exigências sanitárias muito mais efetivas a partir da próxima segunda-feira. Jorge Silva, gerente do Aquariu´s, está apreensivo, mas «com otimismo». «Estamos encerrados há dois meses, com despesas mensais normais e temos uma faturação de zero», sintetiza o empresário. Preocupado, Jorge Silva diz que «vemos isto muito mal porque sabemos que nesta fase não vai haver clientes» e que além da «falta de circulação» de pessoas, «não há turismo». Preparado para reabrir no dia 18, o gerente do restaurante Aquariu’s adianta que vai reabrir com a utilização de um terço do espaço habitual: «Como temos três salas, a porta principal vai ser a de entrada e a saída será feita pela porta de segurança» para evitar que as pessoas se cruzem. «Estamos preparados para, com todos os cuidados, atender bem os nossos clientes», garante, admitindo que «o habitual não vai voltar a acontecer». Ainda assim, Jorge Silva confia «num bom regresso» de clientes.

«O CET é o projeto mais importante da última década»

O presidente do NERGA – Associação Empresarial da Região da Guarda vê muitas nuvens negras a pairar sobre a economia regional e antecipa dificuldades generalizadas para todos os sectores da vida económica local. Para Pedro Tavares as medidas do Governo ainda não chegaram às empresas e «ninguém vai endividar-se para pagar salários» quando as empresas não têm dinheiro, nem apoios. «Estou muito apreensivo, nomeadamente com as empresas que vivem do turismo, pois neste momento e nos próximos tempos não vai haver turismo», alerta o dirigente, para quem, além das medidas do Governo, «tem de haver iniciativa local e as autarquias têm de ser mobilizadoras e dinamizadoras da economia».
O presidente do NERGA afirma mesmo que, por exemplo, na Guarda «é urgente pôr já em andamento todos os projetos que a Câmara tem em mãos», caso dos Passadiços do Mondego, que «têm de entrar em obra com urgência», considera. O mesmo terá que acontecer com o CET – Centro de Exposições Transfronteiriço, «pois a Guarda há muito que necessita de um centro de exposições» e a sua construção no Rio Diz, além de promover uma nova centralidade e ser uma oportunidade, terá ao lado um hospital privado». Pedro Tavares acredita que «o avançar destas e de outras obras» irá permitir «movimento e injeção de dinheiro na economia local, o que é urgente», defende. Na sua opinião, estes dois projetos são «estruturantes», mas sobretudo o CET, que considera «a obra mais importante da Guarda na última década».
O representante dos empresários sublinha que estes investimentos não podem ser vistos apenas em termos de ciclo político, mas «como grandes opções de futuro» até para «estancar a perda de população». Nesse sentido, considera ser «imperativo que o município decida depressa» e avance com «este e outros projetos rapidamente». «A Guarda não pode continuar a discutir querelas políticas como antigamente», critica o empresário, avisando que «as oportunidades têm de ser aproveitadas e ainda mais neste momento de crise». Pedro Tavares recorda que o fundo de investimento Greenfield, que pretende implementar o CET, comprometeu-se com a autarquia em cinco medidas que poderão ser decisivas para o futuro imediato do concelho: o investimento numa incubadora de empresas, no piso superior do mercado municipal; a entrada da Guarda num fundo financeiro de 25 milhões onde já estão a Covilhã e o Fundão para apoio às empresas; um plano de investimento e regeneração do centro histórico da cidade, com residências para estudantes e residências artísticas; o Centro Tecnológico da Indústria Automóvel e o hospital privado.
Neste ponto, Pedro Tavares recorda que «se não houver decisões rápidas na Guarda o promotor irá avançar para a Covilhã», pois o grupo de saúde parceiro tem «grande interesse em abrir uma unidade do género na Beira Interior». Alerta, por isso, que a Câmara tem de «investir tudo na cidade, uma vez que se a Guarda não tiver futuro, as aldeias irão morrer ainda mais depressa». De resto, o dirigente do NERGA manifesta estranheza por se gastar «tanto dinheiro público em caminhos rurais, quando faz falta investir na cidade», reiterando que «a vida nas aldeias depende do emprego na cidade».

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