O primeiro-ministro afirma que não haverá austeridade. O secretário-geral do PS diz que não dá garantas. Um ex-deputado do PS rejeita a austeridade, mas defende forte contenção orçamental. Não será austeridade, apenas novas cativações. O discurso sobre a devolução dos rendimentos às famílias vai acabar na devolução das famílias aos rendimentos.
O líder da oposição acha que fazer oposição ao governo é um acto anti-patriótico. Criticar a unanimidade tornou-se mais perigoso do que apanhar uma virose. Até eu, que sou um anti-hipocondríaco, tenho medo de sair à rua. (Anti-hipocondria é um estado clínico que se caracteriza por não querer saber de estados clínicos. Há quem diga desleixado ou irresponsável, mas eu prefiro a primeira porque tem mais sílabas e é formado por uma palavra do latim e duas do grego). E o meu receio não é pelo vírus, que é um agente do acaso e me pode apanhar em qualquer esquina. Não saio por não querer ser insultado pelo Rodrigo Guedes de Carvalho no “Jornal da Noite”. É por isso que só vou ao hipermercado à noite, quando o jornamoralista já deixou o estúdio da SIC.
No início desta semana, um estudo referia que os homens são mais vulneráveis ao vírus por causa dos testículos. Os mesmos cientistas talvez tenham descoberto também que as mulheres são mais susceptíveis à gravidez por causa dos ovários. Temo que o Presidente da República, tão preocupado com a saúde da nação, proponha, até à descoberta da vacina contra este coronavírus, a castração geral da população. Na verdade, possuir gónadas não é uma característica evidente nos dirigentes do país.
No fim-de-semana, o Parlamento vai juntar 300 pessoas durante um estado de emergência que proíbe reuniões com mais de 100, viagens com mais de 5 e passeios de mais de 2. Portugal é, realmente, um milagre. É um mistério ainda existir.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia