Quando em dezembro passado, a China anunciou os primeiros casos do coronavírus na cidade de Wuhan todos estariam longe de imaginar as consequências terríveis que este vírus iria provocar na economia mundial. As Bolsas de Valores, que refletem o estado de espírito dos investidores e da economia em geral, têm conhecido quedas diárias colossais.
Com efeito, o surto tem-se espalhado com uma rapidez impressionante, tal como o pólen das arvores é disseminado pelo vento num dia de Primavera, ao ponto da OMS (Organização Mundial de Saúde) ter já declarado a pandemia a nível mundial. O caso mais complicado parece ser agora Itália. Por muitas medidas que o Governo daquele país tome, está a ser difícil quebrar a corrente que todos os dias infecta centenas de cidadãos. Sobre aquele país a imprensa traz diariamente notícias terríveis, como os médicos terem que escolher quem tratar e quem deixar morrer.
Isto está a acontecer num dos países mais ricos e desenvolvidos da Europa e do mundo… A desorganização é total. As estruturas sociais estão fortemente abaladas. Diariamente morrem mais de cem pessoas devido a esta pandemia. Os hospitais estão a abarrotar com milhares de doentes infetados. Os serviços estão fechados, os transportes parados, os supermercados de prateleiras vazias. E a economia? A produção de bens e serviços? A distribuição? – Os efeitos terríveis desta situação virão a seguir.
Quem leu os livros “A Peste”, de Albert Camus, ou mesmo “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago, constata a enorme analogia de pormenores e situações de contágio dos romances idealizados pelos escritores com a atual situação, esta infelizmente bem real, que o mundo está a conhecer.
E por cá? No nosso caso as coisas estão bem diferentes do que se passa em Itália. A situação parece ainda estar controlada, embora diariamente tenham aumentado significativamente o número de infetados. Existem escolas, universidades e imensos serviços camarários fechados. O Governo tem anunciado algumas medidas para fazer face à atual situação, passando inclusivamente por anunciar apoios, ainda não concretizados, às pequenas e médias empresas.
Temos que estar preparados para uma redução substancial da receita fiscal, por via da quebra substancial do IVA no turismo, quebra do IRC e IRS, etc. Paralelamente, irão aumentar de forma significativa os gastos com a Segurança Social e nomeadamente com o SNS (Serviço Nacional de Saúde).
Será caso para dizer que Mário Centeno bem poderá dizer adeus ao seu excedente orçamental de 2020, que tanta notoriedade lhe tem proporcionado. Habitualmente, tenho sido critico das medidas – melhor, da falta de medidas do Governo em prol da economia. Desta vez, e para tentar suster o surto, todos devemos cumprir escrupulosamente as orientações emanadas pela Direção-Geral da Saúde e penso que o Governo, com bom senso, tem feito o que deve ser feito.
* Economista