O tempo é coisa que não volta para trás, nem mesmo com a cunha de Tony de Matos. Estamos a 5 de março do ano da graça de 2020 e, só por graça e alguma desgraça, a história identifica estórias e historietas tão ridículas que entram no convencional anedotário português, tornando-as completamente hilariantes.
A estória que se segue entra nos anais de uma novela de centenas de episódios, transmitida por canal medíocre, meio achinesado, com audiência reduzida e começa assim:
Era uma vez um rei com uma grande barriguinha, comia, comia e mais fome tinha. No meio da palhaçada, com bobos à mistura, o rei mandava, mandava, como se não fosse nada.
Certo dia o monarca absolutista engordou muito e teve necessidade de mudar de cozinha e de tacho, abandonando os súbditos, deixando-os entregues à sua sorte, tendo acontecido que todos eles ficaram zangados, chegando a vias de facto, pois todos achavam que poderiam ocupar o lugar do reizinho, que entretanto rumou para um país distante lá no centro da Europa.
O príncipe que ficou à frente do reinado – e não sabe muito bem se um dia será rei – puxou dos galões dizendo que era o maior, ao que todos os outros não gostaram. Nem os mais súbditos nem os menos súbditos, onde alguns bobos deixaram de estar em estado de graça e passaram a ser engraçados.
Caía nessa altura a Carmo e a Trindade. O príncipe Carlos, numa atitude “very british”, esqueceu definitivamente Diana, assumiu o namoro com Camila, duquesa da Cornualha, enquanto o Costa do Castelo, morador na pensão da fadista Cidália Moreira, critica Tiago Maroto por este deixar de tocar o tema “Dá-me a volta” optando pelo “Despique” da desgarrada “Deixo de ser”.
Esta coisa do rei estar longe tem que se lhe diga. Ao que parece, o rei embalado pelo canto do Conde vai telefonando para cá pedindo “Tou longe, me conta… vai”.
Entretanto, no pátio de Alfama, na casa de fado bailundo, Cidália canta “Até parece mentira” e estupefacta manda um soberbo murro na mesa, diz ao príncipe Carlos que não percebe patavina do assunto e, do alto do seu palanque, onde apenas uma pequena parte das luzes da ribalta se acendem, canta o tema que a popularizou “Alto e para o baile”.
Costa do Castelo convence a atriz Lucinda a deixar Dona Cecília, admitindo que quer ser comandante do pelotão impondo a lei Gabínia para tentar contrariar a candidatura do general Júlio César.
Neste preciso momento é muito difícil adivinhar o términus desta novela, de tantos capítulos, não conseguindo decifrar o tal final feliz, levando o espectador a perceber que o quizomba do Badoxa controla (e de que maneira) e parece persistir.
A estória já vai para lá de meio, neste leilão alaranjado repleto de atores que, percebendo a existência de pó nocivo, vírus e muita sujidade no ar, que afeta o sistema respiratório e porque se pode verificar a falta de imunidade do rei, que umas vezes está longe, outras tantas bem perto, o coronavírus é mais uma ameaça. A ameaça do momento. Se calhar é importante comprar máscara com garantia chinesa, daquelas de bico de pato. É que eles (os patos e os patinhos) andam por aí.
Nota: Qualquer semelhança com pessoas e situações é considerada mera coincidência.