Escrevi que voltaria a refletir sobre a necessidade de construir uma estratégia para o turismo na Guarda. Fá-lo-ei, de facto, um dia destes. Hoje, porém, permitam-me que escreva sobre a polémica a que assistimos em fevereiro acerca das condições de habitação na região da Guarda.
Tudo começou com o anúncio de um estudo do Instituto Politécnico da Guarda (IPG), segundo o qual 30% das habitações da região são precárias e necessitam de melhoramentos. Nas notícias o presidente do IPG, Joaquim Brigas, afirmou que os estudos do Politécnico são um contributo para as candidaturas dos municípios ao “Programa 1º Direito”: este canalizará apoios públicos para que as casas de famílias com menos rendimentos possam ter mais condições de habitabilidade, mais conforto térmico, saneamento e melhor acessibilidade.
O “Programa 1º Direito” vai ter 700 milhões de euros até 2024, em todo o país, para dar habitação adequada a pessoas que a não têm – 700 milhões esses a fundo perdido! Isto significa que irão concorrer concelhos de toda a parte a este dinheiro, sendo que ele, preferencialmente, será dado a quem tiver a sua situação melhor caraterizada por um estudo (tal como o IPG fez para a região da Guarda) e a evidência de maiores necessidades habitacionais (tal como o IPG as caraterizou).
Perante isto – ou seja: perante um bom primeiro posicionamento público da região para aceder aos dinheiros do “Programa 1º Direito” – o que fizeram os autarcas daqui?
Parece mentira, mas vieram dizer que as deficiências detetadas nas habitações desta região não eram reais, o que significou proclamarem, para todo o país, que a região da Guarda, da Serra da Estrela e das Beiras, dispensa pelo menos parte dos milhões de euros a que poderia aceder para melhorar o seu parque habitacional.
Passo a citar: os municípios que compõem a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIMBSE) «não podem aceitar as conclusões do referido estudo e manifestam a sua indignação face à notícia em causa por constituir “informação” errónea e sensacionalista». Assinou o presidente, Luís Tadeu Marques, autarca de Gouveia.
Enquanto por todo o país os municípios dramatizam as suas situações para conseguir maiores financiamentos, nesta região os autarcas escondem as necessidades e fazem figuras de ricos.
Dizia Napoleão Bonaparte: «Nunca interrompas um inimigo que erra». Como não sou inimigo dos presidentes de Câmara da região, interrompo e peço: não deem tiros no pé neste assunto! Aproveitem!
* Dirigente sindical