Deu polémica um estudo do IPG divulgado recentemente, segundo o qual, cerca de 30% da população residente nas Beiras e Serra da Estrela, vive em condições indignas – o termo é mesmo muito forte – e em situação de grave carência habitacional. Depois, houve o reconhecimento de que o estudo assentava num território mais restrito, num dos concelhos da região, e que teria havia uma extrapolação excessiva. Porém, e muito para além da área do estudo, estas conclusões deixam-nos chocados e indignados. E o assunto foi colocado na agenda!
O objetivo do estudo é fazer o diagnóstico da forma de viver das pessoas e criar soluções habitacionais inovadoras. Com este trabalho de campo orientado para a sua área de influência, o IPG quer saber responder às necessidades básicas da população e revitalizar estes territórios de baixa densidade.
O IPG estará a exagerar nas suas conclusões, mas ninguém lhe pode tirar o mérito de ter chamado a atenção para uma realidade que nos passava ao lado e envergonha a todos.
Sim, nas áreas mais interiores da Raia e Serra da Estrela vive-se em condições indignas e infra-humanas e, mesmo nas cidades e vilas, há muita miséria encoberta e envergonhada. O conforto térmico das habitações é um conceito sem sentido.
Se a denúncia pública desta realidade fosse numa área metropolitana, a correria das televisões, a gritaria dos comentadores, ampliava a notícia e pressionava municípios e Governo. Aqui apenas aconteceu uma pausa na rotina.
Não conhecia o estudo do Politécnico e muito menos as suas conclusões. Mas há muito que me preocupava a situação dos idosos a viver isolados em aldeias e anexas, ou no ermo território despovoado, cercados de mato e de medo, sem acessos fáceis, à mingua de tudo.
Já nem queria falar na indignidade da habitação, uma velha quinta de pedra, coberta de talha vã, às vezes sem vidraças nas janelas, muitas sem eletricidade, sem água e saneamento, onde o frio toma conta da longa noite; metidos entre os cobertores da cama, já nem a lareira empresta algum calor ao triste lar da velhice, sem companhia, sem ternura, sem nada.
Na rotineira cobertura das atividades do Presidente da República, as televisões bombardeavam-nos com o apoio aos sem abrigo de Lisboa e Porto. Dos idosos sós do interior nem uma palavra. Condenados a viver sozinhos em casas sem condições, são os sem abrigo do mundo rural, e merecem atenção e igual tratamento.
Durante o debate orçamental partilhei esta preocupação com a ministra Ana Mendes Godinho, e apresentei uma pergunta regimental ao Ministro das Infraestruturas e Habitação. Está em preparação um Projeto de Resolução. O tema é digno de análise e merece toda a prioridade.
O Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social não deixa os assuntos pela rama; vai à raiz dos problemas e procura as respostas necessárias.
E como tem feito com os sem abrigo das cidades, vai agir a favor dos idosos isolados do interior, que são muitos milhares. Chocados? Obrigado IPG!
* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda