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Um Carnaval Demasiado Longo

Este Carnaval começou em Junho do ano passado, quando Durão Barroso aceitou um emprego melhor e mais dignificante que o de primeiro-ministro de Portugal. Como era previsível a cotação do cargo desceu vertiginosamente, ao ponto de ter parecido quase natural a sua ocupação por Santana Lopes. Este, se apreciarmos no seu conjunto os eventos do último meio ano, viria a revelar-se como o Rei Momo de maior longevidade da história dos Carnavais. E talvez por isso, por estar em pleno exercício de funções, abdicou da campanha eleitoral nos últimos três dias.

Em 2004, quando este Carnaval começou, convém recordá-lo, o défice orçamental foi superior ao dos tempos de António Guterres e só não foi muito superior graças à expropriação dos fundos de pensões, entre outros, da Caixa Geral de Depósitos e da ANA. Isto com um IVA superior ao de 2001, que na altura era de 17%, com os salários da função pública congelados pelo segundo ano consecutivo e sem o lançamento de qualquer obra de envergadura. Em suma: o Estado, pelas mãos de Durão Barroso e Santana Lopes, desperdiçou o nosso dinheiro em nada que se visse ou valesse realmente a pena. Pura, simples, comezinha má governação.

Até teria a sua graça, e servir como uma cura de humildade, ou um justo castigo a um eleitorado demasiado distraído em alguns momentos cruciais, se este país se não chamasse Portugal. Se, por exemplo, não fosse de uma vital urgência enfrentar problemas como o da dependência energética, do envelhecimento da população, da previsível falência da segurança social, da competitividade industrial assente em salários baixos, da geral iliteracia, incompetência e subsidio-dependência. A nossa tragédia é que o tempo passa e que, quando precisávamos de um verdadeiro estadista à frente de uma equipa de luxo, temos Santana Lopes y sus muchachos. Porca vida.

Ouvi na TSF, no passado domingo, alguns dos discursos do comício do PSD em Castelo Branco. Ouvi o de Morais Sarmento (se fosse adepto de campanhas negras chamava-lhe agora “Mogais Sagmento”) e o de Eurico de Melo. Estava também presente Alberto João Jardim, o papa dos reis momos, mas o túnel da Gardunha engoliu-lhe as presumivelmente sábias palavras. De Morais Sarmento não ouvi nada sobre questões civilizacionais, nem uma única proposta ou ideia de governação a reter, mas ouvi vários minutos de críticas a Sócrates e ao PS. Eurico de Melo foi mais interessante. Disse que estava “farto de sábios”, o que serviu para introduzir um simpático eufemismo: “Santana Lopes não é um sábio”. Concordo plenamente com ele e aplaudo a pertinência da observação que, se peca, peca por defeito. Ele poderia até proclamar que Santana Lopes é o antípoda do mais modesto dos sábios, que por mim estaria igualmente bem. Mais enigmática foi a sua referência a Alberto João Jardim, quando aconselhou Santana Lopes a fazer em Portugal o que aquele tem feito na Madeira. É que não percebi a quem é suposto nós irmos extorquir dinheiro. E isto foi a parte construtiva do comício.

Por: António Ferreira

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