P – A Associação Desenvolver o Talento (ADoT) comemora dez anos de atividade. Como presidente da direção, avalia o trabalho desenvolvido nesta década?
R – Sem falsa modéstia, estamos satisfeitos com o trabalho desenvolvido. Promovemos a integração social das crianças/ jovens com capacidades de excelência e talentos superiores que nos procuraram, criando oportunidades de progresso e concretização do potencial de cada um atuando de forma pró-ativa. Proporcionámos também o encontro entre pares em características e a socialização com os seus “amigos do peito” nas atividades que promovemos. A robótica educativa, a atividade que conferiu à ADoT maior notoriedade pública, proporcionou-lhes em competições nacionais e internacionais um imperdível conhecimento das mais recentes inovações tecnológicas disponibilizadas pelo meios académicos de todo o mundo. Esses desafios permitiram-lhes potenciar as suas capacidades e testar os pequenos robots que nascem das suas mentes e mãos. Também permitiram adquirir conhecimentos de culturas e países diferentes e a partilha de saberes, para além de levar o nome da Guarda aos quatro cantos do mundo.
P – Quais as maiores dificuldades que enfrentou?
R – Porventura, a maior dificuldade foi o confronto com o défice de sensibilidade que a temática de apoio a estes jovens desperta no país, onde persistem resistências, que temos colmatado através da formação de pais e professores. O grupo coeso de associados e alguns apoios permitem-nos manter as atividades e a sede apetrechada com os equipamentos necessários às várias valências. Mas as dificuldades sentidas são uma forma de fazer avançar o projeto da associação. Cada problema a ser superado é uma oportunidade para novos projetos.
P – Qual a maior dificuldade/desafio enfrentado por estas crianças no seu dia-a-dia?
R – A tarefa primordial da Educação é desenvolver e aperfeiçoar o Ser Humano em todas as suas dimensões, expetativas e objetivos. Embora a Escola tenha, por definição, um papel fundamental na educação e formação dos cidadãos, tendo em vista oferecer-lhes um atendimento diferenciado de acordo com as suas características individuais, por vezes, tal não acontece, o que leva estes alunos a desinteressar-se pelas aulas que não os desafiam e, perante a falta de motivação, chegam a revelar dificuldades no desempenho escolar e no comportamento perante colegas e professores. Por outro lado, os currículos primam pela generalidade, centrados na obrigação de todos aprenderem as mesmas coisas ao mesmo tempo, tratando como iguais os que são efetivamente diferentes. Daí a necessidade de lhes proporcionar atividades de enriquecimento, potenciadoras das suas capacidades natas.
P – No futuro, o que falta ainda fazer no sentido de melhorar e aumentar a inclusão de crianças sobredotadas?
R – Ser a Escola inclusiva. Esta apoia-se no princípio de que as pessoas são diferentes e não cabe à escola dissimular ou minimizar essas diferenças em nome de “igualdade”. Com as crianças com capacidades de excelência e talentos superiores o problema não está em receber a criança com diferenças visíveis, mas em integrá-las na ação educativa. Assim, o desafio para a escola inclusiva é reconhecer, aceitar e desenvolver, efetivamente, os mais capazes. Esta realidade implica uma maior competência profissional dos professores e projetos educativos mais diversificados em resposta às diversas necessidades de todos os alunos. Creio que a “sobredotação” devia ser matéria obrigatória na formação de base dos professores. Portugal é um dos poucos países da Europa sem legislação específica para lidar com a excelência. Fica-se pelo despacho normativo nº 13/2014, que se limita a prever ir ao encontro das «capacidades excecionais» destes alunos com a realização de planos de desenvolvimento, atividades de enriquecimento curricular, a possibilidade de a escola formar grupos temporários de alunos que aprendam de forma mais rápida e, se for caso disso, até avançar de ano. Sinal positivo é o facto do Ministério da Educação publicar, em 2017, o Guia para Professores e Educadores – Altas Capacidades e Sobredotação: Compreender, Identificar, Atuar, elaborado pela nossa parceira ANEIS (Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na Sobredotação), onde está referenciada a Associação Desenvolver o Talento, o que muito nos honra, pelo reconhecimento do trabalho que desenvolvemos.
P – Qual o contributo mais significativo da associação? Qual a maior conquista obtida até hoje?
R – A ADoT tornou-se num espaço de apoio, complementação e suplemento educacional em que o respeito pelas mentes brilhantes provocou momentos únicos de partilha e os tem ajudado no desenvolvimento da sua personalidade. Foram momentos de orgulho quando os nossos jovens subiram aos pódios das competições nacionais e internacionais de robótica realizadas em países de três continentes (Europa, Ásia e América do Norte). Momento de orgulho também quando a Fundação Montepio, em 2012, reconheceu a ADoT como associação que promove uma sociedade mais solidária, mais próxima e promotora de iniciativas que apelam a uma maior responsabilidade social.
Mas a maior conquista é ver como crescem felizes e integrados; como as primeiras mentes brilhantes que participaram nas nossas atividades se transformaram em jovens adultos competentes, responsáveis, tornando-se cidadãos do mundo onde são reconhecidos pela sua forma de SER.
Perfil de Maria Goretti Caldeira:
Naturalidade: Angola
Idade: 61 anos
Profissão: “Gestora do meu tempo”
Currículo: Educadora de Infância em jardins de infância do concelho da Guarda; Docente na Escola Normal de Educadores de Infância e na Escola Superior de Educação da Guarda (IPG); Presidente da direção da Associação Desenvolver o Talento e presidente do Conselho Fiscal da Associação de Profissionais de Educação de Infância.
Filme preferido: “A Vida é Bela”, de Roberto Benigni
Livro preferido: “O Vendedor de Sonhos”, de Augusto Cury
Hobbies: Pintar, tocar piano, viajar e voluntariado