“O macaco bêbado foi à ópera”. O seu autor, Afonso Cruz, narra-nos uma bonita história que vai da embriaguez à civilização. Percebi então que «no início houve um macaco esperto que desceu da árvore». A partir daí todos os outros seguiram-lhe o exemplo.
Os macacos são animais interessantes que gostam de ter o seu lugar no galho que efetivamente lhes pertence. O povo, na sua sábia sabedoria, vai distribuindo a galha a este primata, afirmando “cada macaco no seu galho”.
A política do chimpanzé é, nesta altura do campeonato, feita de palavras lindas e estudadas, apertos de mão, promessas de mundos e fundos para o interior da floresta, onde alguns macaquinhos que por cá pululam, de simpatia ímpar, oferecem bananas a todos os outros, numa análise que mesmo Darwin dificilmente conseguiria explicar.
Neste planeta dos macacos onde a amabilidade sai à rua, nota-se que a sensibilidade eleitoral está permanentemente presente e contrasta com a futura insensibilidade e distanciamento (depois de servidos. Foi sempre assim), dando lugar ao chorudo soldo, com todas as benesses conhecidas, e o lobismo militante passa a ser causa e efeito para o amiguismo e nepotismo. Isto é visível e notório em todas as árvores de todas as cores.
E aqui andamos nós embalados pelo canto da sereia, de voz melodiosa e comportamento popularucho (pelo menos até ao final do primeiro fim de semana de outubro), a ouvir histórias de mimar e apanicar, nesse pregão eleitoral de um mundo melhor onde a floresta interior e os seus habitantes, dentro de quatro anos, viverão numa terra onde correrá leite e mel que nem o bíblico território de Canãa conheceu, seguindo-se a prática de uma descrição histórica onde ambos os produtos serão utilizados para escafisar os pobres habitantes do interior profundo.
Neste escaparate de produtos viçosos de pouca durabilidade percebe-se já a mostra de figurantes que iniciam o desfile com o único objetivo da candidatura a gestores locais.
Resumindo: isto, ao que parece, está no papo rosáceo e a História apenas registará exíguas estórias de pequenas historietas que vão até 6 de outubro para se entender, em definitivo, se a coisa funciona com ou sem a tal dita geringonça. E, se esta vai ser lubrificada, ou não.
Razão para o autor de “O macaco bêbado foi à ópera”, pois há tanto macaco a subir para árvore e outros quase tantos a descer num interessante vai e vem (cá em cima está o tiroliro liro, lá em baixo está o tiroliro lé), apanhando os frutos caídos pela maturação da coisa (pelos vistos estes contêm mais açúcar e mais álcool) e, depois de embriagados pela presença das luzes da ribalta e da passerelle do poder, vão em carreirinho de formiga ziguezagueando até à ópera para estarem presentes nos quatro atos da única que efetivamente lhes interessa: La Bohéme.
E assim vai a campanha. Assim vai o mundo. O nosso mundo.